Era um prédio muito engraçado,
Tinha tudo para ser o melhor,
mas era mal administrado.
Gigante por natureza.
Parecia perfeito para morar,
Por fora, uma beleza.
Por dentro, era de chorar.
Problemas de estrutura,
Era preciso mudar.
O síndico só dormia,
afinal nenhum morador parecia ligar,
Até que um determinado dia, eles começaram
a despertar.
-Está tudo errado, seu síndico. O senhor
não pode negar.
- Eu não nego nada. Muita coisa a realizar.
-Então, comecemos já.
-Espera lá!
-Já sei, taxa extra para pagar?
-Como não? Muito a fazer. Mas, fiquem
tranquilos: segurança, infra, e conforto eu vou prometer. Para vocês ficarem
satisfeitos vou fazer até uma bela área de lazer.
Esperançosos, foram para o lar,
Contando os dias para o grande dia chegar.
Com atraso de meses,
Veio a inauguração.
Para a festa, apareceu uma multidão.
Eram japoneses, americanos,
Franceses, italianos,
Croatas e mexicanos...
Gente do mundo a fora.
Quando os moradores chegaram à cobertura,
Quase foram embora.
Além de não conseguir ver o show de
abertura...viram que permaneciam as mesmas falhas de estrutura.
A quadra de futebol, linda. Iluminada.
Mas, da melhora prometida, nada.
-Síndico escroto! O que fez com o dinheiro
que tirou do nosso bolso?
-Calma, pessoal. Não fiz nada de mal.
-O dinheiro, embolsou. Tantas viagens pelo
mundo. Foi até a Moscou.
-Olhem, em volta! Festa linda!
-Não mude de assunto. Você está na
berlinda.
As coisas esquentaram.
Os moradores se revoltaram. Partiram para
agressão.
Os fotógrafos da imprensa internacional
registraram a confusão.
Até que um morador conseguiu acalmar a
situação.
-O síndico está errado. Roubou,
superfaturou, não cumpriu o combinado. Mas, nós vamos nos prejudicar e bagunçar
o que já foi arrumado? A área de lazer ficou legal. Os moleques já estão até jogando
futsal.
-Mas, vamos ficar aqui, com sorriso na
fisionomia, enquanto eles bebem champanhe, nesta mordomia?
-A festa foi feita com as nossas economias.
Mesmo não estando na área VIP, tenho direito de aproveitar.
-Como? Com bolso vazio e cerveja na mão?
-Por que não?
-Ah! É se contentar com pouco. Eu vou
partir para a ação.
-Por que não? Eu vou ficar tomando uma
cerveja e curtindo a canção.
-Mas, e o síndico? O que vamos fazer com o
ladrão?
-O que a gente quiser. Este, é ano de
eleição.
Por algum tempo, pensaram na questão.
Uns preferiram passar a festa à samba e
cerveja;
Outros se viraram de costas e cuspiram na
bandeja.
A festa transcorreu com axé, frevo e chorinho.
Mesmo embriagados de vinho, os moradores
sabiam que, daqui para frente, seria um longo caminho.
Alguns ainda falaram impropérios. Apesar da
revolta, a verdade é que o destino do síndico era um mistério.
Por debaixo dos panos, muitos tinham se
beneficiado com o adultério.
Depois, nas urnas, cada um usaria seu
critério.
O resultado poderia ser injusto,
E não gerar ao prédio nenhuma melhoria,
Paciência! Pois, até hoje, não inventaram nada mais
justo
do que a malfadada democracia.
Roberta S Saboya
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