quinta-feira, 3 de março de 2011

Em um Sábado Qualquer

Rio de Janeiro, noite quente de um sábado qualquer. Era seu debut na vida de solteira. Claro que  já tinha sido solteira antes, numa galáxia muito, muito distante, alguns séculos atrás.  Naquela noite, lá estava ela, no meio de uma festa, dentro do seu melhor vestido,  reaprendendo.  Três minutos foram suficientes para entender que uma dose seria  pouco para se despir toda a virgindade adquirida em mil anos de namoro.   Todos se olhavam. E como se olhavam! Era uma multidão de vampiros e outra de vítimas em potencial.  Mais uma dose e estava pronta.  Vampira seria por pelo menos uma noite. Escolheu seu alvo. Uma criatura loira, alta, porte atlético. Acontece que ele estava vampirizando uma morena do outro lado do recinto. Nessa hora, ela percebeu que estava sendo vampirizada por outro rapaz:  pele clara, cabelos tão escuros que chegavam a brilhar. Ela não  queria aqueles cabelos negros! Ela queria o loiro, que queria a morena. Essa, estava tão vampirizada por si mesma, que não formava ponto de conexão com ninguém no local. Até aquele momento, a cena era interessante e prometia uma continuidade, no mínimo, emocionante.   Mas, as horas foram passando e nada acontecia. Nada acontecia tanto, que a frustração começou a invadir a festa. Ela fingia ignorar o fato de que uma das coisas mais comuns na vida de solteira é a sensação de frustração ao final de uma noite de sábado. Então, agiu. Aproximou-s e tentou dar a sua mordidinha. Ele recuou. Não era o feitiço dela que ele queria. Desanimada, recolheu-se à insignificância, consciente da sua mortalidade. Foi quando o rapaz de pele clara e cabelos escuros se aproximou. Assustada com a força da vampiridade do rapaz, pensou em resistir.   E resistiu bravamente. Durante três segundos. Mas, teve a sabedoria de se deixar morrer.  Mesclado de suor, saliva e cerveja, o Sr.clímax deu o ar da sua graça. Apaixonaram-se loucamente pela imortalidade de uma noite.  Mas, como é de costume, o crepúsculo de um domingo qualquer os trouxe de volta à ressaca da mortalidade. Ela sabia o que sentiu, ele sabia o que sentia. Nenhum dos dois tinha a mais vaga idéia do que o outro pensava sobre o momento. Nunca mais se viram. Talvez algum dia se reencontrem em alguma rede social ou num evento na lapa. Talvez não. Essa era a incerteza que dava a ela a certeza de que havia reingressado definitivamente no mundo selvagem dos solteiros.  Ainda embreagada de sono e ressaca, ela sentia-se incapaz de não sorrir ao pensar que faltavam apenas 6 dias para o sábado seguinte.