Fui ao
México uma única vez, com minha ex-mulher, minha filha e meu filho
pré-adolescentes, no final dos anos oitenta. Mais precisamente, no ano de 1988.
À época
Cancún despontava, mas escolhi Acapulco para começar a viagem, por causa dos
meus registros cinematográficos; depois fomos para a capital.
A ideia
preponderante, o que mais se via ao longo da estada, era o sofrimento do povo,
extorquido por um governo corrupto, e a inevitável comparação com o
Brasil.
A
devastação produzida pelo invasor espanhol é muito mais sentida pelos
mexicanos, que orgulhosamente se esforçam para preservar a história e os marcos
da sua cultura pré-colombiana.
É claro que
levei na brincadeira a lendária Vingança de Montezuma***, que ataca os
aparelhos digestivos dos incautos turistas, com seus poderosos temperos.
Meu desprezo
levou-me a ingerir, sob os olhos apavorados dos meus filhos, um aparentemente
inofensivo vegetal verde-claro e crocante, durante o café da manhã no
aeroporto, pouco antes do embarque para Los Angeles.
Embarcamos,
nos instalamos, decolamos. Conversávamos sobre os programas em L.A., quando
senti um aperto no baixo ventre. A princípio não liguei, mas começou a
incomodar muito e eu resolvi que iria ao toilette, quando servissem o almoço.
Avisei meu grupo e assim o fiz. Mas a cólica era seca e me apertava o abdome
como uma tenaz. Empapado de suor, recompus-me o suficiente para sair e pedir
ajuda mas, de repente, o desconforto foi sumindo, sumindo... Aí meus pensamentos
convergiram para a senhora, mãe do iminente mandatário asteca, para depois
abrigarem um pedido de perdão pela minha quase fatídica descrença.
RICARDO SABOYA
***OBS: “Vingança
de Montezuma” é um termo coloquial para as doenças diarreicas causadas a turistas
de outros países, durante visita ao México. Os especialistas de internet dizem
que a doença é causada pela bactéria Escherichia coli.
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