quarta-feira, 20 de março de 2013

UM INVERNO QUENTE


   
As chances de eles se encontrarem eram remotas, diriam os Otimistas. Ínfimas, diriam os Realistas. Possíveis, afirmava a Probabilidade, silenciando temporariamente Otimistas, Realistas e Pessimistas (já calados dede o início).   Ela era de um país, ele era de outro. Um dia, por diferentes razões, os dois estavam num mesmo lugar. Um terceiro país, muito distante dos seus de origem. A primeira vez que passaram um pelo outro, não se viram. O lugar era estreito e estava cheio. Fazia frio. Os dois andavam o mais rápido possível, entre especiarias e chás. Mantinham os olhos baixos. Talvez pela falta de expectativa. Talvez para evitar os olhos dos comerciantes inconvenientes.   Chegaram a quase se encostar. Mas, se perderam muito antes de saberem que poderiam se achar. Escaparam- se outras tantas vezes, para delírio dos Pessimistas.  

   No dia mais frio daquele inverno, entre “al slaams” e “shukrans” , esbarraram um olhar no outro. Entre artigos de couro e perfume de jasmim, identificaram algo em comum entre si. Sorriram, com todas as partes do corpo, denunciando a própria latinidade.  Delírio dos Otimistas, reação moderada dos Pessimistas e incredulidade dos Realistas. Caminharam juntos, a partir de então. Conversaram sobre todos os assuntos. Ela não falava uma palavra de espanhol, e ele não falava nada de português. E se entendiam perfeitamente. Restava a eles pouco tempo naquele país. Aproveitaram. Entre tapetes e medinas, conheceram níveis de intimidade que nunca haviam vivido antes. Aqueceram-se.  Entre tâmaras e harissas, experimentaram gostos que nunca tinham testado antes. Embolaram-se. Entre futas e lençóis, misturaram tango com o samba. 
   
   Quando chegou o momento, eles voltaram para os seus países. Embora, o verão os fizesse suar, eles ainda exalavam o frescor daquele inverno. Pouco a pouco foram se mesclando à velha realidade: Antigo trabalho, antigos amores...calor! O gosto doce do perfume de jasmin ficou preso em algum lugar entre a memória e o delírio. A cada dia, as chances de existir um tempo como o que passou, ficavam mais remotas. Todo ano, os Otimistas aguardavam esperançosos; os Pessimistas, incrédulos; os Realistas, ansiosos pela possibilidade de um futuro inverno quente. Insistiam no mesmo pensamento, pois ainda que ínfima, havia uma probabilidade. 

Roberta Saboya

sexta-feira, 8 de março de 2013

Paixão





Adorava aquelas manhãs: A brisa fresca, o sol aquecendo ainda preguiçoso, os pássaros orquestrando a melodia da natureza. Mastigava seu desjejum quando  ele apareceu. Pontual como sempre. Sentia-se mais segura com ele por perto. Ela admirava seu porte, sua virilidade, sua força. Ele caminhou como um Deus em sua direção. Chegou sem dizer nenhuma palavra. Passou-lhe a mão na cara e a deslizou pelo seu dorso finalizando com dois tapinhas na anca. Displicente, mas decidido, ele pegou o banquinho e sentou-se ao seu lado.  Ela se arrepiou ao prever o que estava por vir. Ansiosa, sentiu aquela mesma mão máscula passeando pela sua mama. Ele tinha, ao mesmo tempo, delicadeza e força. Tomou as tetas entre os dedos firmes e puxou.  Ela o olhou, lânguida, e não resistiu. “Muuuuuu”! Gritou de prazer enquanto o leite já espumava no balde.



Rick Sadoco