As chances de eles se
encontrarem eram remotas, diriam os Otimistas. Ínfimas, diriam os Realistas. Possíveis,
afirmava a Probabilidade, silenciando temporariamente Otimistas, Realistas e Pessimistas (já calados dede o início). Ela era de um país, ele era de outro. Um dia,
por diferentes razões, os dois estavam num mesmo lugar. Um terceiro país, muito
distante dos seus de origem. A primeira vez que passaram um pelo outro, não se
viram. O lugar era estreito e estava cheio. Fazia frio. Os dois andavam
o mais rápido possível, entre especiarias e chás. Mantinham os olhos baixos. Talvez
pela falta de expectativa. Talvez para evitar os olhos dos comerciantes
inconvenientes. Chegaram a quase se encostar. Mas, se perderam
muito antes de saberem que poderiam se achar. Escaparam- se outras tantas
vezes, para delírio dos Pessimistas.
No dia mais frio daquele
inverno, entre “al slaams” e “shukrans” , esbarraram um olhar no outro. Entre artigos
de couro e perfume de jasmim, identificaram algo em comum entre si. Sorriram,
com todas as partes do corpo, denunciando a própria latinidade. Delírio dos Otimistas, reação moderada dos Pessimistas e incredulidade dos Realistas.
Caminharam juntos, a partir de então. Conversaram sobre todos os assuntos. Ela não
falava uma palavra de espanhol, e ele não falava nada de português. E se
entendiam perfeitamente. Restava a eles pouco tempo naquele país. Aproveitaram. Entre tapetes e medinas, conheceram níveis de intimidade que
nunca haviam vivido antes. Aqueceram-se. Entre tâmaras e harissas, experimentaram gostos que
nunca tinham testado antes. Embolaram-se. Entre futas e lençóis, misturaram tango com o samba.
Quando chegou o momento,
eles voltaram para os seus países. Embora, o verão os fizesse suar, eles ainda exalavam
o frescor daquele inverno. Pouco a pouco foram se mesclando à velha realidade:
Antigo trabalho, antigos amores...calor! O gosto doce do perfume de jasmin
ficou preso em algum lugar entre a memória e o delírio. A cada dia, as chances de
existir um tempo como o que passou, ficavam mais remotas. Todo ano, os Otimistas
aguardavam esperançosos; os Pessimistas, incrédulos; os Realistas, ansiosos pela possibilidade
de um futuro inverno quente. Insistiam no mesmo pensamento, pois ainda que ínfima, havia uma probabilidade.
Roberta Saboya