quarta-feira, 22 de junho de 2011

Fantasia



- Mamãe, acabou. Coloca de novo.
- Mas essa foi a terceira vez.
- O que houve?
- Aurora quer assistir Branca de Neve outra vez.
- Minha filha, tem tantos outros aqui. Três Porquinhos?
- Não.
- Chapeuzinho Vermelho.
- Não gosto de lobo, papai.
- Cinderela? É outra princesa linda.
- Pode ser esse?
- Pode.

“ O sonho é o desejo d´alma. N´alma adormecer...”

- Mamãe, acabou.
- Mas essa foi a terceira vez.
- O que houve?
- Aurora terminou outra vez.
- Minha filha. Já é o terceiro namorado esse mês.
- Nenhum homem presta, papai.

“N´alma adormecer...”  “N´alma adormecer...”  “N´alma adormecer...” ... Zzzzzzzz.

domingo, 12 de junho de 2011

Feliz Dia da Independência Russa


O dia já começou assim com dores no estômago, enjôo, agonia de estar sozinha. Era dia dos namorados. O primeiro do resto de sua vida e ela tinha certeza que esse seria sem flores e sem bombons.  Tinha um medo gigante de que sua vida fosse ser sempre assim daqui para frente. Tinha medo de ficar solteira para sempre. Tinha medo de não encontrar o homem da sua vida. No fundo, nem acreditava mais nisso, mas a pressão daquele dia a fazia sentir uma fracassada. Claro, lá no fundo tinha uma esperança que algum milagre acontecesse. Por isso entrou no Facebook. Talvez tivesse uma mensagem...Um convite...Nada. Não para ela. Depressão, solidão, depressão. Estava disposta a se suicidar num copo de coca-cola, sem ser zero, às 10 da manhã. Ia dar o primeiro gole quando o milagre aconteceu.
Não era um telefonema, ou mensagem, ou flores, era só o post de um amigo: Feliz dia da Independência da Rússia. Em algum lugar do mundo não se comemorava o maldito dia dos namorados! Sim, sua vida estava salva! Ela decidiu entrar no clima da festa... deles. Jogou na pia o líquido venenoso e cheio de calorias que tinha no seu copo e começou a organizar a sua festa. Convidou os amigos, os amigos dos amigos (podia ser que aparecesse algum solteiro interessante) enfeitou a casa, fez o playlist. Até traje típico inventou. O dia passou que ela nem viu. Chegaram os amigos, as vodcas, os amigos dos amigos. Entre vodcas, risos, babalaicas, amigos e amigos dos amigos ela se deu conta. Estava feliz. Solteira e feliz. Sem flores, sem bombons e feliz. Além da independência da Rússia, estava comemorando a sua própria.  E brindou à vida e a todas as possibilidades que poderiam surgir daí para a frente.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

CACHORRA...

    - Fala rápido porque Ruth está na cozinha... Ok... Sim, entendi. Às três horas no lugar de sempre.  Beijo. Tenho que desligar. Também te amo.
    Suas entranhas se contorcem em um misto de dor e frio. Não tinha como negar. Acabara de ouvir o marido confirmando um encontro. Nervosa corre para a cozinha. As mãos trêmulas, a respiração ofegante.
    -Bom dia, Ruth. Café está pronto?
    -Bom dia, está sim, querido.
    - Porra, Ruth! Presta atenção!
    - Desculpe. Deixa que eu limpo.
    - Agora vou ter que tomar café na rua!
    - Não precisa, eu passo outro rapidinho.
    - Devia passar a sua língua pra limpar isso aí.
    A batida da porta a estremece. O marido se fora. Acaba de limpar o café que derrubara no chão e, pensativa, senta-se. Às três horas o marido se encontrará com a outra. As imagens dos beijos, abraços, carícias e do sexo a apavoram. Confusa, corre para o quarto e entre choro, vagina e dedos sente que seu homem nunca lhe fora tão atraente. Um gozo, como há muito não sentia, a faz convulsionar em prazer. Adormece.
    - Ruth! Ruth!
    Acorda com o marido a sacudi-la.
    - O que houve?
    - Nada. Deitei pra descansar e peguei no sono.
    Dá-se conta da situação e pergunta em sobressalto:
    - Que horas são?
    - Sete.
    Levanta-se , ajeita a roupa e o cabelo. Dá um beijo carinhoso no marido.
    - Não se preocupe, querido. Seu jantar vai sair rapidinho. Do jeito que você gosta.
    Sai do quarto. O marido a observa atravessar o corredor. Acha a esposa diferente, as ancas se remexem com mais volúpia, como a lhe abanar o rabo.