A
arte de manipular o tempo, na ficção, sai diretamente das mãos dos roteiristas
e editores. Nos filmes, vídeos, séries e novelas são eles quem tem o poder de “empurrar”
a história para a frente. Na vida real, a arte de editar o tempo pertence única
e exclusivamente a nós, os bêbados.
Cena 1 – O Inicio de Lu
O
início do sábado, para Lu, teve um gosto diferente. Foi o primeiro em que se
sentia solteira de verdade. Só queria se divertir. No maior astral, começou a
beber com as amigas. Até que...Jorge apareceu. O que ele estava fazendo num
samba?? Surpresa. Cervejas. Raiva. Mais cervejas. Alegria. Mais cervejas.
Início de depressão. “Oi, Você aceita uma cerveja?” - perguntou o cara mais
gatinho e fofo do lugar. Que se dane o jorge! Sim! jorge, com letra minúscula mesmo.
O sábado era dela. E das cervejas. Até que... “Você não acha que já chega de
sambar, não?”- o fofo perguntou. Ela fez que sim com a cabeça. Ah, afinal, a
vida era bela, a bebida era Stella (talvez a décima da noite) e ela não teve forças
para resistir. Foi para a casa dele. Corta
para:
Cena 1 – O Inicio de Edu
O
início do sábado, para Edu, foi de praia, cerveja e futebol. Dali, praticamente
emendou nos embalos de sábado à noite. Estava se sentindo gato. Mais do que o
normal. Na balada, decidiu trocar o conteúdo do copo. Enquanto escolhia o alvo
da noite, ia bebendo. Já alegre, ele percebeu que o território estava parecendo
um campo minado, cheio de peguetes fixas e ex-peguetes. Queria novidade.
Caçava. Vodka. Seduzia. Vodka. Fugia de umas. Mais vodka. Dava mole para outras.
Mais vodka. Até que encontrou: Morena, nem alta, nem baixa, gostosa, na medida!
Foi ao ataque. A morena aceitou a investida. Vodka. Tudo estava bem até que ele
viu avançando pela lateral esquerda, uma mulher em fúria. Putz! Era Pri, a
peguete fixa número 5, que ele esqueceu que tinha convidado pra festa. Rápido, Edu
deu um gole abastado e propôs para a morena: “Vamos para outro lugar”? Ela fez
que sim com a cabeça. Saíram da festa. Corta
para:
Cena 2 – O meio de Lu
SOB O DOMÍNIO DO ÁLCOOL
Sem
imagens nítidas – Corta para:
Cena 2 – O meio de Edu
SOB O DOMÍNIO DO ÁLCOOL
Sem
imagens nítidas – Corta para:
Cena 3 – O Final de Lu
Lu
acordou ao lado do gatinho fofo. Sorriu. Ele dormia pesado. O sol já tinha
raiado há algum tempo e ela não queria ser daquelas mulheres inconvenientes que
nunca saem da casa do cara. Então, Lu resolveu ir embora. Antes escreveu, no
bloquinho perto do telefone um bilhete em agradecimento pela noite, com nome e
telefone. Foi para a casa, sem que jorge com letra minúscula tivesse sequer
cruzado o pensamento. Ao abrir a bolsa para pagar o taxi... Coisa estranha! A
bolsa estava repleta de vômito. Imediatamente ela sentiu um frio na barriga. Tentou
se lembrar, em vão, dos acontecimentos da noite. A única coisa que sabia é que
tinha algo de podre no reino da Dinamarca... e na bolsa, é claro. Corta para:
Cena 3 – O Final de Edu
Edu
acordou atravessado na cama, desorientado. Tentou reconhecer o local, em vão. Até que se virou e
olhou para o teto. Espelho. Ok, estava no motel. Tentou se levantar. O corpo
estava pesado, trêmulo. Olhou em volta, viu a morena dormindo numa espécie de
divã, próximo à cama. Ficou feliz, tinha se dado bem, apesar de não lembrar. Satisfeito
se esticou na cama. Seu pé tocou em outra pessoa. Ele se levantou, assustado.
Era Pri, atravessada na cabeceira. Confuso, foi em busca das próprias roupas.
Achou. Elas estavam num montinho misturadas às roupas das duas. Todas as peças
de roupa estavam cobertas com uma substância negra. Ele se arriscou e cheirou.
Vômito! Mas, preeeeto? “O que essas loucas aprontaram??”- pensou. Não sabia, e
também não quis saber. Pagou uma conta absurda de motel e partiu feliz por ter
pego duas ao mesmo tempo.
Fim
Como
assim Fim??? Bom, para o texto não ficar sem explicação, a roteirista foi
buscar a memória perdida. Lembrem-se! Qualquer semelhança com a realidade é
mera coincidência.
Cena 2 – O meio de Lu
(História
recuperada graças ao gatinho fofo)
Lu
estava aos beijos com o fofo no sofá. Tudo maravilhoso até ela encostar a
cabeça no acolchoado e o mundo dela girar. Náuseas. Ela teve que ser rápida.
Para não ficar muito chato e sujar a casa do rapaz, abriu a própria bolsa e fez
o serviço ali. Depois sorriu para ele e tentou beijá-lo novamente. Ele recuou.
Ela se sentiu enjoada de novo e repetiu o processo da bolsa. E fez assim muitas
vezes, até ele conseguir que ela fosse vomitar no banheiro. A impressão de Lu
em relação ao rapaz estava certa. Ele era um fofo e cuidou dela a noite toda,
até ela apagar no lado direito da cama. A memória apagada na mente de Lu, ficou
muito viva na cabeça do fofo. Ele chegou a pegar o telefone para ligar para ela
algumas vezes. Mas, a imagem do vômito na bolsa o impediu.
Cena 2 – O meio de Edu
(História recuperada graças à Pri e
à Morena gostosa)
No
motel, Edu e a Morena beijaram-se loucamente até Edu interromper o processo
para tentar respirar. Estava enjoado. Abriu o frigobar e tomou uma coca.
Respirou e iniciou a pegação. A coca não tinha adiantado. Mega enjoado, ele foi
salvo por uma batida na porta: “serviço de quarto”. Abriram. Era Pri, pronta
para despejar a raiva. Mas, foi ele quem despejou nela, a La “Exorcista”, o
líquido preto contido no seu estômago (culpa da coca). Em seguida, vomitou um
jato potente na morena e correu para o banheiro. A situação ficou bem estranha.
As mulheres vomitadas de preto ficaram se olhando. Sem ter mais o que fazer,
conversaram enquanto ele botava os bofes para fora. Pri começou a contar as
histórias de Edu. Interessada, a morena ouviu. As duas cuidaram dele, deram-lhe
banho, lavaram as roupas (todas), colocaram-no na cama. Não satisfeito, ele
vomitou novamente em cima das roupas já lavadas. Elas riram, abriram uma
garrafa de champanhe e ficaram amigas.
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Sim,
essa arte de manipular o tempo pode custar bem caro, eu bem sei. E não digo
caro só porque é caro beber nas festas. Mas porque nós, os bêbados, de vez em
quando, perdemos dinheiro, carteira, documentos, celular, dignidade...Ah, a
dignidade! Volta e meia deixamos a coitada perdida, sem pai nem mãe, espicaçada,
caída no chão e com os dentes quebrados...Eis que a ressaca moral chega e faz a
gente querer morrer. A gente se promete que nunca mais vai beber de novo. Corta
Para:
Cena 1 – Festa de sábado/ Inicio do
nova bebedeira
Roberta S. Saboya