terça-feira, 23 de abril de 2013

VIDA FÁCIL



Podiam dizer que era fácil a vida dela. Ela podia concordar em parte. A vida de Sônia começava com o sol para lá de alto. Levantava-se ainda Cleonice, entre lençóis puídos e gosto de ressaca. Antes do café, o cigarro. Antes dos pensamentos, a televisão. Tomava café da manhã, à tarde, sempre assistindo a filmes antigos. Era a hora do seu prazer. Quando o letreiro anunciava o Fim, era o começo. Cleonice se pintava com maquiagem barata, perfumava-se com o presente doce dado por alguém que nem lembrava mais, vestia poucas roupas.  Não se olhava no espelho. Mirava-se no cartaz. O velho pôster da Sonia Braga a fazia lembrar porque havia fugido de um pobre cafundó do Brasil para vir para o Rio de Janeiro. Quando via sua imagem no cartaz não lembrava que não havia realizado nada do que planejara. Não lembrava que seu tempo havia passado. Não lembrava que estava só num cafundozinho em Copacabana. Não lembrava quantas vezes teria que abrir as pernas aquela noite para ter o que comer no dia seguinte. Não lembrava do cheiro de cerveja azeda e seca que sentia pelas calçadas toda vez que voltava para casa. Não lembrava o quão difícil era ser Cleonice. Olhava Sônia e seus dentes brancos de manhã calma. Sabia, então, que aquela noite podia ser que fosse o dia em que encontraria a sua manhã calma. Assim partia.  E era fácil! Era muito fácil ser Sônia. 

Roberta Saboya

quarta-feira, 10 de abril de 2013

FIM DE CASO



-Muuuuuu!
Entristeceu-se a vaca.
-Miauuuuu!
Indignou-se o gato.
-Auuuuuuu!
Lamentou o cão.
-Mu!
-Miau!
-Au!
Opinou a bicharada.
-Béeeeee! Béeeeeee!
Choraram as cabras.
Mesmo assim,  acabrou-se!

 Rick Sadoco