segunda-feira, 18 de junho de 2012

No Elevador


Esposa dedicada, profissional brilhante, mulher linda. Clara é uma dessas pessoas que não cometem deslizes. Nunca. E ela se orgulha disso. 

Um dia, saiu apressada de casa. Quando entrou no elevador, no oitavo andar, percebeu que tinha que voltar para casa. Fisicamente tinha que voltar para casa, mas sabia que se voltasse chegaria atrasada. Então deixou a porta do elevador fechar atrás de si e tomou a decisão. Conscientemente cometeu seu deslize secreto. Um inocente, silencioso, e rápido pum. Mulheres como ela não peidam, soltam puns. Eram apenas oito andares e não era um horário de movimento no prédio. Podia ser que ninguém entrasse no elevador.
Acontece que no sexto andar ele entrou. O zombador dos zombadores, o piadista do prédio, o líder na arte de fazer uma história qualquer se tornar engraçada. O pior é que o punzinho inocente, apossou-se da atmosfera e fez uma combinação com o ar, transformando-se num pum pesado e muito, muito fedido. 

Clara ficava de cabeça baixa, rezando para ele não desconfiar de nada. “Talvez, ele tenha algum problema de olfato e não consiga detectar cheiros”, pensou ela. Só esse fato ou uma hecatombe nuclear a tirariam daquela posição constrangedora. Mas, enquanto o elevador movia-se em câmera lenta, ela pôde notar que ele abria as narinas e inspirava bastante profundamente. Sim, ele podia detectar cheiros. Só restava a ela a hecatombe nuclear.
A situção tornou-se totalmente insustentável na altura do terceiro andar. Ela não sabia o que fazer. Ele tinha um ar investigativo nos olhos. “O que estaria pensando?” O silêncio e o cheiro do próprio pum estavam a matando. E o olhar dele... “O que diabos ele estava pensando?”  Quando ela achou que fosse morrer sufocada, de vergonha e de tudo junto, ele rompeu o silêncio.Falou sério, calmo, preciso e sem tom condenatório. “Almôndega”!
Aliviada, Clara abraçou o rapaz. Finalmente estava livre da sua própria perfeição.  

 *Texto Inspirado numa das maravilhosas histórias de Rodrigo Nery Atem

terça-feira, 12 de junho de 2012

O Dia Dos Namorados do Ano Seguinte


    Cris não acreditou quando eles se separaram. Era verdade que o namoro já não era mais o mesmo. Quem olhasse de fora poderia jurar que Karina e Marcelo pareciam apenas bons amigos. E daí? Cris sabia que era o caminho normal de todo relacionamento longo. Mas, separação?  Entre Karina e Marcelo? Foi um choque. Ironicamente, a notícia espalhou-se no dia dos namorados. Os amigos não conseguiam imaginar como seria a vida de Karina sem Marcelo ou a de Marcelo sem Karina, e a deles mesmos sem Karina+Marcelo.
    
   Eles foram levando suas vidas, cada um com o seu inverno particular. No verão, Cris notou que Karina estava diferente. Mas, nada tinha mudado substancialmente. Ela só estava + Karina. Ela começou a atrair os olhares masculinos. Cris vibrava e incentivava a amiga, mas Karina dizia não estar pronta para um novo relacionamento. Até que um dia Cris notou, que a cada pausa de conversa, Karina suspirava fundo e assobiava sem perceber. Cris perguntou na lata: 

- Você está saindo com alguém? 

    Karina desconversou. Desconfiada, Cris passou a fazer a mesma pergunta todos os dias. Karina negava, cada vez mais misteriosa. Os sumiços frequentes e as insistentes trocas de mensagens entre a amiga e o “namorado oculto” deram à Cris a certeza de que Karina estava saindo com alguém. Mais que isso, sabia que Karina estava apaixonada.  Cris só não entendia o por quê do mistério. Aventou algumas hipóteses: seria por que o homem era casado? Por que o homem era muito mais velho? Por que era muito mais novo? Será que o Homem era uma mulher? O que de tão errado podia haver para Karina não querer contar para ela?
Descobriu no Dia dos Namorados. Cris disse que ia ficar sozinha no dia dos namorados, já que Rogério estava de plantão. Convidou Karina para jantar. Karina disse que não podia. Tinha compromisso. Então, Cris entendeu o mistério. O único motivo possível do segredo era Karina estava tendo um caso com Rogério, seu noivo. Disposta a flagrar a traição, foi até ao apartamento da Karina na noite em questão. Sabia que a amiga escondia a chave reserva em baixo do tapete do hall de entrada. Cris pegou a chave e enfiou na fechadura. Flagrou a amiga. Só que o acompanhante não era Rogério. Cris ficou furiosa.

-Vocês? Vocês estão tendo um caso??? Como assim??? Por quê?
- A gente não queria precipitar as coisas. Estamos indo devagar com a relação. Toma uma taça de vinho com a gente?

   Cris sentou, aturdida, no sofá. Karina e Marcelo riam e se olhavam com cumplicidade. Uma cumplicidade que Cris jamais tinha visto entre os dois. Eram Karina e Marcelo. Ainda assim, muito diferentes da Karina + Marcelo que Cris conheceu antes do término. Estavam juntos, mas não misturados. Ele apaixonado pela Karina sem Marcelo e ela apaixonada pelo Marcelo sem Karina. Marcelo encheu as taças e brindou.

- Feliz dia dos namorados.

Notinha de Rodapé: Uma pequena homenagem para os casais que se redescobrem e reinventam diariamente a delícia de estarem juntos.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Eles


Ele queria sexo...
Ela queria romance...
Ele deu a ela romance, conseguiu  sexo.
Ela deu a ele sexo, conseguiu romance.
E viveram felizes para sempre...
Ou não...

Rick Sadoco