sexta-feira, 17 de outubro de 2014

AS ELEIÇÕES DO FLA X FLU




Às vésperas da fase final das eleições de 2014, o Brasil vive um clima tenso.  Enquanto os candidatos trocam acusações, os eleitores se posicionam, escolhem lados e compram as brigas nas redes sociais, nas mesas de bar, nos bancos dos táxis. A disputa eleitoral parece, para mim, um FlaXFlu, onde os presidenciáveis jogam e os torcedores gritam. Mas, ninguém se escuta.  Porque não interessa o que o adversário diz, uma vez que os lados já estão escolhidos. E quem torce sabe muito bem que um tricolor com o melhor argumento do mundo jamais vai convencer um flamenguista a torcer para o Fluminense e vice-versa.
Pensando bem, a metáfora escolhida por mim para retratar esta disputa PT X PSDB é muito desleal aos torcedores rubro-negros e tricolores. Porque o FlaXFlu é de uma beleza, de uma honra digna dos cavaleiros das fábulas de capa-e-espada. Os times se enfrentam, mas se respeitam. Sabem que um clássico destes só é possível porque um é um e o outro é o outro.

Não! As eleições de 2014 não tem essa honra, não tem esse mérito. Os presidenciáveis ainda se parecem com times de futebol e nós, eleitores, com torcidas. Mas, nada a ver com um FlaXFlu. Esta disputa eleitoral se parece mais com um sangrento jogo de Libertadores da América. Em 1981, o Flamengo e o time chileno Cobreloa protagonizaram uma dos duelos mais violentos da história da competição. Foram três partidas cruéis. Nas duas primeiras, o zagueiro Mario Soto, do time chileno, deu uma pedrada no meia Adílio e também fez sangrar o ponta-esquerda Lico

Assim estão as arenas de debates: acusações e pedradas viraram o foco. As torcidas fazem coro e se atacam nas redes sociais, botecos e táxis. Já vi amizades estremecerem, fraquejarem e ficarem moribundas. Mostramos os pontos fracos de um e de outro, normalmente sem checar as fontes e ver se todas as informações são verdadeiras. Neste jogo que criamos não há regras, nem cartão vermelho para as faltas e baixezas cometidas contra o outro. O que importa mesmo aos candidatos e às torcidas é ganhar o jogo – vale gol de mão, cascudo, tiro, porrada e bomba. 
Duelo entre Fla e Cobreloa


Ilustração: William medeiros
No terceiro e decisivo jogo entre Flamengo e Cobreloa, em 1981 pela Libertadores, veio a vingança do time rubro-negro. Cansado das pedradas, o time carioca resolveu se vingar. A quatro minutos do final, Carpegiani, o então técnico do Fla, colocou em campo o atacante Anselmo só para esmurrar Soto (o jogador das pedradas). Obediente, Anselmo soltou a mão — e foi expulso feliz da vida, vibrando com a vitória. O Fla comemorou e a torcida aplaudiu e se sentiu vingada. Somos humanos, afinal de contas! E na nossa humanidade passional nestas eleições perdemos o foco. O país vive um período difícil e estava precisando de carinho, de cuidado, de projetos que realmente fizessem bem para ele. Mas, nós – as torcidas - estamos dedicando nosso tempo a berrar uns com os outros com sete pedras na mão. Enquanto isso, o Brasil agoniza e vai perdendo o jogo por uma goleada muito maior do que 7 a 1.

Roberta S Saboya

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

AUTORRETRATO

Rio de Janeiro, Domingo (s), 2014

Era um domingo daqueles. De azul límpido de paraíso, sem linha visível a romper o horizonte verde do mar. O sol quebrava o infinito verdazul, soberano, quase sorrindo. A sorrir mesmo estavam os donos das cangas, pranchas e bolas que se embolavam na areia. Duas ruas longe do paraíso, a paisagem era outra: o sol parecia brincar de esconde-esconde com quem transitava, não se podia vislumbrar nem resquício de horizonte, mares de gentes se moviam. Não se olhavam, ou não se viam. Se espiavam, apenas de soslaio, quando desconfiavam umas das outras. O som do radinho enfurecido era abafado pela broca da obra em frente. Obra quase permanente, monumento que se fazia presente naquela paisagem há mais de um ano. A guerra decibética era vencida só e tão somente pelas sirenes das polícias e ambulâncias ambulantes que tentavam, em vão, aplacar alguns gritos de socorro. De passagem, olhei a paisagem: Selvas de prédios, asfaltos, gentes prontas a atacar ou a se defender das outras gentes. Um quadro feio, sem respeito pela cidade - que já fora tão bela- sem respeito pelo sol que devia estar brilhando não muito longe dali, sem respeito pela felicidade de alguém que estava em algum lugar que não aquele. Já na segurança do claustro, buscava apagar a imagem da cabeça. Não queria mais o mar de cinza invadindo o meu HD pessoal. Quis apagar, remover, deletar. Fechei mais uma vez os olhos para expurgar de vez o domingo. Foi então que notei. Olhei para o quadro de novo e ali estava seu Zé, sereno, no meio da calçada. Ele regava o tronco de árvore que eu já tinha esquecido que ali habitava. Seu Zé não se abalava com o radinho enfurecido, com as sirenes, ou com a broca. Alheio àquelas selvas de gentes enfurecidas e amedrontadas, ele regava o tronco. Nem me lembro de ter achado estranho, porque não o enxerguei na paisagem. E só agora lembro que quando passei perto, também amedrontada e enfurecida, vi a orquídea que ele cultivava com cuidado no tronco da amendoeira. Acho que ele me sorriu. Talvez, naquele momento, o sol tenha dado uma espiadinha por detrás dos prédios e iluminado o quadro com um feixe de esperança. Talvez... Quem sabe?

Roberta S Saboya

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Um Ótimo Lugar para se Quebrar a Cara – ALEMANHA

O voo de ida foi maravilhoso - E olha que para mim a palavra voo nunca vem acompanhada de adjetivo positivo - mas daquela vez veio. Talvez pela mistura de exaustão resultante de um ano de trabalho sem descanso com a ansiedade de chegar e aproveitar as tão sonhadas férias. Não eram férias quaisquer. Eram férias com cerveja boa e boa companhia. Destino: Alemanha. Mais precisamente, o parque de diversões dos amantes da cerveja: a Oktoberfest.  Primeira parada: Frankfurt - cidade interessantíssima, na qual fiz uma passagem meio relâmpago.



A cervejada já começou na noite da chegada. Dia seguinte, um breve city tour. Naquela tarde encontrei um velho amigo de infância, que morava na Alemanha há anos. Viajamos de carro até Ulm, simpática cidade de construção medieval, onde nasceu Albert Einstein. Lá conheci os amigos alemães do meu amigo brasileiro e partimos rumo ao destino principal: Munique. Viajamos de carro de Ulm para lá. No meio do trajeto, entre o sono e a vigília, me dei conta do quanto andávamos macio. A estrada era um tapete. Distraidamente, olhei para o velocímetro. Na mesma hora, despertei. Estávamos a 200 km por hora. Fiquei tenso alguns segundos até me dar conta de que, com a potência daquele carro e a solidez daquele asfalto, não seria possível dirigir mais lentamente. Diferente das estradas brasileiras, as alemãs funcionavam. Aquilo sim era uma boa viagem de carro. A eficiência e organização alemãs têm muitas vantagens. Mas, para um brasileiro, carioca como eu, essas características geram certa estranheza. Aconteceu na Oktober!
Finalmente, chegamos a Munique. Mal colocamos as malas no hotel e partimos então para o pavilhão do evento.

O lugar é literalmente um parque de diversões, não só para os bêbados ou amantes comedidos das cervejas. Têm brinquedos, desfile de cavalinhos, carrossel e muito mais. Entramos felizes, que nem crianças. Na verdade, eu estava feliz à béça. Bom, voltando à eficiência e organização germânicas... o lado ruim destas características: eu quis tirar uma foto num corredor entre os bares (que mais parecem galpões) e já fui fazendo pose, mas cortaram o meu barato. Logo veio alguém do staff dizendo que não era permitido fotografar ali. “Mas, nem rapidinho?”, perguntei sorrindo. A moça fechou o sorriso e mandou que eu andasse. “É, nem rapidinho”, concluí cá com meus botões. Entramos no bar onde já tínhamos uma reserva e abrimos os trabalhos.

Brasileiro bebe bem, certo? Errado, amigo. Em comparação aos Alemães, somos bebês etílicos. Eles bebem cervejas boas, bem feitas e com um teor alcoólico alto em canecas de 1 litro. Bebem rápido e pedem mais. Não me intimidei. Acompanhei o grupo de amigos germânicos. Bebemos, rimos, bebemos, brindamos... Eu sempre algumas canecas atrás, já ligeiramente muito bêbado, continuava bebendo e brindando. Depois de duas horas no bar, tivemos que sair porque a reserva só ia até às 17 horas. E por causa da organização e estrutura germânicas não seria possível ficar nem um minuto a mais, já que outro grupo reservou a mesa para aquele horário. Ficar bebendo, em pé, sem mesa (como fazemos no Rio) era uma impossibilidade para aquele povo tão organizado, num evento tão bem estruturado. Tudo estava muito bem. A alegria, tanto etílica quanto a comum em dias de férias, estavam no ar, até que...Na saída, alguém do meu grupo esbarrou em alguém de outro grupo e uma discussão se iniciou. Quando eu percebi que os ânimos estavam muito exaltados, intervi. Como bom membro da turma do “deixa-disso” me coloquei entre dois camaradas, sem ligar para a diferença de tamanho entre eles e eu (os Alemães são gigantes) e disse (não sei em que língua) “Ah, qual é pessoal! Vamos para outro lugar, vamos beber na paz”. Foi aí que a bomba veio e apaguei.
A “Bomba” era um “delicado” soco de algum gigante bêbado. A eficiência Alemã me salvou!!! Acordei algum tempo depois com 20 pontos nos supercílio e o olho inchado. Me contaram que em segundos fui retirado do local e colocado na ambulância. Todos os procedimentos médicos foram feitos e estava tudo bem. Bem, estava tudo péssimo. Mas, bem. Não me cobraram nada na hora. Depois, descobri que fiquei devendo 42 Euros para eles. (dinheiro que devo até hoje, já que a embaixada nunca respondeu meus insistentes emails de tentativa de saldar a dívida).

Com a cara inchada, olho roxo, e dores no corpo, a viagem seguiu. Ainda passei por Berlim e por Londres, mas esta é uma outra história. Aqui vai uma lição que aprendi: “Não vale a pena tentar acompanhar o ritmo de bebelança dos germânicos!!!! Mas, se quiser tentar, vale a pena. O que pode acontecer? Uma emergência médica? Bom, se sim, aproveite! Lá, no país da organização e eficiência, é o melhor lugar para se quebrar a cara”.

De: Ivan Lobos
Escrito por: Roberta S Saboya

terça-feira, 1 de julho de 2014

Tutti Frutti e Estabilidade na terra da Oportunidade – Uma Visão sobre os EUA

 Uma amiga escritora muito querida, Roberta S Saboya está publicando textos muito legais em seu blog "Blog do 301" relacionados a impressão dos brasileiros que vão para fora, visitar ou morar em países que estão participando da Copa do Mundo. Fiquei lisonjeada de ser escolhida para falar dos Estados Unidos e juro que vou tentar fazer uma análise profunda sobre essa experiência. 


A impressão que eu tenho é de que tudo está em seu devido lugar, o tempo inteiro. Isso é louvável, mas ao mesmo tempo, um pouco monótono pra mim que adoro uma bagunça. Tive a oportunidade de conhecer muitos lugares desse país - e como minha avó falou anos atrás e eu concordo: tudo tem cheiro de tutti frutti. Eu particularmente posso dizer que a Califórnia é mais feliz que o resto dos Estados Unidos e a minha impressão é que isso tem tudo a ver com o calor e o sol. O sol é inspirador em qualquer parte desse mundo de meu Deus.  


Estou apaixonada pela Califórnia, mas assim como todos os brasileiros que cruzei por aqui, parece estar faltando alguma coisa que nenhum de nós consegue explicar exatamente o que é. Se eu pudesse criar personagens, eles diriam:

"- Oi bom dia, eu trabalho como garçonete há 12 anos. Tenho um marido que me espera para fazer o jantar. Eu trabalho sábado, mas comemos pizza aos domingos. Tanto faz porque não transamos mais. Não tivemos filhos, mas temos dois gatos".

"- Oi, sou professora de inglês. Moro em uma rua muito tranquila e tenho dois filhos pequenos. Eles adoram a minha torta de maçã, sim maçã! Fiz com que eles acostumassem com as frutas desde cedo. Meu marido é muito companheiro e divide bastante as tarefas domésticas e também é bastante participativo na educação com os filhos. Nós transamos duas vezes por semana, porque não gostamos de ficar muito tempo com o quarto trancado, ficamos preocupados com as crianças..." 

"- Eu sou aposentada, trabalhei muitos anos como caixa do Ralph's. Adoro a tranquilidade daqui e o que eu mais gosto de fazer é assistir televisão com minha cachorrinha".

"- Sou da África e trabalho como taxista há dez anos. Sinto muita falta da minha família e quem sabe um dia volto pra lá, mas estou aqui pelo emprego e pela qualidade de vida".

"- Fala aí , sou professor de surf. Tenho um filho lindo e a minha mulher está grávida novamente. Faço o que mais amo nessa vida e tenho a família que pedi a Deus".

"- Sou diretor de uma empresa multinacional e sou muito bem sucedido. Tenho três filhos e uma linda esposa, pena poder vê-los apenas de quinze em quinze dias porque viajo muito. Mas minha esposa não trabalha e se dedica a eles em tempo integral".

"- Tive uma grande oportunidade de abrir um negócio aqui e investi em um estacionamento. Hoje ganho muito dinheiro e não tenho porque voltar ao meu país de origem, o Brasil. Ainda me sinto muito sozinho às vezes, mas nas férias corro pra lá".



"O jantar está na mesa às 19h e dormimos às 21h", não tem nada de errado nisso, mas a melhor comparação que posso fazer é que os americanos são tão estáveis e previsíveis quanto seus carpetes. Essa é a minha maior impressão. 

SHANA PARAIZO



OBS: Shana é escritora e corajosa. Largou tudo para investir no seu maior sonho. Hoje, faz curso de inglês na Califórnia e tem um blog maravilhoso, onde narra suas aventuras diariamente.  http://calcadadashana.blogspot.com.br/

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Buen Viaje - Destino: ESPANHA

Impressões e dicas (ou não) de uma viagem pela Espanha:

- Viajando para algum grande evento.
Em 2010 planejei uma viagem a Madri para assistir a final da Champions League. Esse torneio tem uma curiosidade interessante, a final acontece sempre em um jogo apenas, em uma cidade escolhida muito tempo antes de se saber que times estarão na disputa pelo título. Apesar de estar na Espanha o jogo foi entre alemães e italianos (Bayern de Munique x Inter de Milão). Cheguei um ou dois dias antes do jogo e a cidade já estava tomada por torcedores dos dois times. Numa mesma praça era capaz de brindar a primeira cerveja com um alemão e entoar gritos que nunca tinha ouvido e na segunda rodada, estava pulando e brindando ao lado de um italiano.
Pontos turísticos? Sim, estavam lá também. Na mesma praça, servindo de cenário perfeito para aquela enorme confraternização. Para quem gosta de fazer aquele “turismo tradicional”, vale lembrar que sim, a cidade fica bem mais cheia.  Mas, na minha opinião, essa vibração diferente compensa. Programe o seu evento e vá sem medo.
  Viagem a dois é romântico, mas por que não viajar entre amigos?
Nesta viagem, fui apenas com amigos (3 casais e eu, a super vela). Com certeza, é preciso um certo planejamento porque agradar sete pessoas num lugar totalmente novo não é fácil. O que na verdade também acaba sendo bem legal porque como justificativa de “programar” a viagem, algum tempo antes tivemos que nos encontrar diversas vezes para conversarmos sobre o que gostaríamos de fazer, onde iríamos – ótimos momentos em que curtíamos a viagem antes mesmo dela acontecer.

- Improvisar na programação.
E apesar de toda programação, alguns dos melhores momentos foram de total improviso. Em toda viagem anda-se muito. E na Espanha não foi diferente, andamos muito. Mas num grupo grande, logicamente o passo é outro - fulano parou pra foto, siclano entrou numa loja, calma, espera... Sem pressa, sem stress. E por diversas vezes a gente estava passando na frente de algum barzinho, e simplesmente porque gostamos do clima, entramos para uma calibrada, duas, três ou mais algumas cervejas e seguimos em frente. Esse tipo de programa não está em nenhum guia de viagem, mas vale muito a pena.

- Só chame o garçon quando tiver certeza.
Já que mencionei bares e restaurantes, fica uma dica que demoramos uns dois ou três restaurantes para aprender. Na Espanha, jamais chame um garçon sem saber o que você vai pedir. Eles são muito impacientes. Se chamar o cara e der uma pestanejada na direção do cardápio, já era, ele some na sua frente igual ao mestre dos magos. Pedir para trocar ingredientes então não é nem digno de resposta...

- Fuja do hotel, vá de aluguel.
Para viagens em grupo, a melhor coisa é alugar um apartamento para temporada. Existem muitos sites que alugam apartamentos, em diversas cidades pela Europa. Nessa viagem, alugamos apartamentos em Madri, Barcelona e em Palma. E em todos os casos, sempre foram honestos e corretos e nunca fomos “enganados” por anúncios com fotos lindas e apartamentos caindo aos pedaços. Além da economia (fica bem mais barato!), tem outras vantagens, por exemplo, chegou “cansadão” e não quer sair essa noite? Nada que um baralho, música e algumas cervejas na sala não resolvam. Sim, tem algumas desvantagens, ninguém vai fazer a sua cama e preparar o seu café da manhã.


- Futbol si senor.
Uma coisa que me impressionou na Espanha é a enorme polarização que o futebol por lá atingiu. A grande rivalidade é logicamente entre os times mais ricos do país, o Real Madri e o Barcelona. Mas o curioso é que nas duas cidades, passeando pelo comércio, você encontra “lembrancinhas” dos dois times. Em Madri era mais fácil encontrar itens do Barcelona do que do Atlético de Madri, o outro grande time da cidade. Futbol e rivalidad si, mas negócios em primeiro lugar.


GUSTAVO CHERMONT

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Como eu queria estar lá, Tchê! - Conexão BRASIL/ ARGENTINA

Desde quando decidi morar no rio, há 15 anos atrás, vários são os momentos nos quais desejo estar em Porto Alegre. Em datas familiares importantes, em eventos e momentos da vida dos meus grandes amigos da Nata Santa Rosa. Ou, até mesmo, só por estar, pelos ares gaúchos, pelos “ventos desgarrados de saudade”.
Especialmente hoje, eu queria muito estar lá. Queria ver Porto tomada pelos argentinos. Queria estar com um lenço vermelho no templo Beira Rio, no único dia em que, mesmo inteiramente colorido de azul, certamente vai estar lindo, iluminado. Hoje, hoje, hoje, não tenho dúvidas, “minha alma lá deixei”.
Queria acordar, tomar um chimarrão amargo e, enquanto a chaleira chia, vestir o colorado manto sagrado e como todo o “nasci igualzito ao pai” tem sua exceção , ver o Messi brilhar, ao som de um “toque de gaita ou violão”.
Sim, está tendo Copa. Está lindo ver a cidade maravilhosa invadida por várias etnias, vários povos e culturas, várias torcidas brindando com a nossa cerveja, nos nossos bares, interagindo, compartilhando, vibrando. Sem dúvida nenhuma, “onde tudo que se planta cresce o que mais floresce é o amor”.
Sim, está tendo Copa e eu fico vidrada assistindo aos jogos. Me envolvi, me joguei, me entreguei. E, mesmo com inúmeras crises e problemas no nosso “canto gauchesco e brasileiro”, continuo com o mesmo pensamento “quero lutas, guerras não...Erguer bandeiras sem matar, vento negro é furacão”.
Sim , está tendo Copa e daqui algumas horas, o jogo da Argentina será em Porto Alegre. Imagino Buenos Aires. Beber um vinho na praça de Palermo ou comer uma empanada andando pela feira de San Telmo. Ouvir um tango, uma milonga, caminhando pelas ruas da Recoleta. Beber uma Quilmes Stout no Caminito, comer uma carne em Puerto Madero. Um café, uma colher de doce de leite...Mas hoje eu queria estar em Porto Alegre. No Cais, na Cidade Baixa, no Gasômetro, no Moinhos, na Osvaldo, na Redenção. ”E de lambuja permita, que eu nunca saia daqui”...
Centro de POA
Pôr do Sol no Guaíba
Sim, está tendo Copa e fui, desde o início, tomada por esta paixão. O coração acelera, a respiração muda o compasso, as pernas tremem, o grito ecoa. Tudo é intenso. Forte. Verdadeiro. Durante o dia inteiro, não sai de mim. Está longe, está perto. “Longe é perto o que vale é o sonho”. É aqui, é em mim.

Sim, está tendo Copa, Copa das surpresas, dos gols, dos grandes times indo embora cedo. Copa dos Craques, dos acréscimos, Copa das Copas. Na Copa não tem time, tem seleção. Hoje sou colorada de coração azul querendo muito estar aí, no meu Porto que, de tão alegre, hoje virou Argentino. É....”quem vai embora tem que saber, é viração”.

  
AMORA XAVIER

terça-feira, 24 de junho de 2014

"Il lupo perde il pelo ma non il vizio" – Uma aventura na ITÁLIA

A viagem foi planejada ao longo de algum tempo com reuniões regadas a riso e vinho. Carro alugado desde o Brasil, para sair de Roma e passearmos, minha grande amiga e eu, pela Toscana!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Chegado o esperado dia! Já em solo italiano, fomos direto ao aeroporto de “Ciampino”, o menorzinho de Roma. Pegamos o carro lá. A ideia era sair direto para a Toscana, pelo cinturão verde, sem ter que dirigir pelo complicado trânsito da cidade de Roma. Nós, tal qual um Thelma and Louise, começamos a nos aventurar. Demorou um tempinho, mas logo, começamos a nos acostumar com o GPS em italiano (“spostastevi a destra”, “a sinistra”, “siamo arrivati”....), com os barulhinhos do carro e tudo o que lhe era peculiar.
Resolvemos parar em um posto de gasolina para abastecer e para um necessário pipi stop, depois de alguns quilômetros rodados. Estacionamos entre dois carros, fomos ao banheiro. Lá nos lembramos de haver deixado a bolsa sobre o banco do veículo. Corremos de volta ao estacionamento. Grande surpresa: ao chegarmos ao ponto onde havíamos estacionado: CADÊ O CARRO??????????? DOV’È LA MACCHINA? Malas, bolsa, documentos, fim de viagem, pensamos!!!! Mas eis que, cerca de uns 200m adiante, (ou abaixo) avistamos um carro escorado pelo muro que separa o posto da autoestrada. Lá estava ele, nos aguardando, depois de descer vagarosamente (assim esperamos) o trajeto entre o estacionamento e a mureta. Como diz o titulo do texto, velhos hábitos são difíceis de ser vencidos ("Il lupo perde il pelo ma non il vizio"). Acontece que minha amiga, a condutora da vez, não se lembrou de puxar o freio de mão..............................O que é compreensível, já que há cerca de 20 anos, ela só dirige carro automático.


Susto... aprendizado... O bom é que estávamos na Itália. E nos bastou um bom vinho local pra ajudar a engolir e digerir a história. Hora de aproveitar a belíssima Toscana! Nossa primeira parada, onde esperávamos ficar umas duas noites, foi no hotel de agro turismo, “Podere Spedalone”, perto de Pienza! Era tão agradável que acabamos passando 4 noites. Fizemos dali o nosso ponto de início de aventura, onde saíamos de manhã rumo a outras cidades por perto (Sienna, Montalcino, Montepuciano) e voltávamos ao anoitecer para sermos brindadas com um prosecco geladinho, ou um “espresso” e, depois, um animado jantar. Tudo, feito pelos simpaticíssimos donos do hotel fazenda. Que delícia... a beleza do lugar é de tirar o fôlego e a simpatia italiana, a admiração deles pelo Brasil, tudo isso foi extremamente cativante.

Alessandro, dono do Hotel


 Um pouco relutantes, mas sabendo que seria muito bom também, entramos no nosso carrinho (agora com todo aprendizado) e partimos dando continuidade à nossa pequena aventura, tal qual Thelma e Louise, mas com final “molto felice”, rumo à Florença.   

REGINA SABOYA

domingo, 22 de junho de 2014

"Tudo vale a pena se a alma não é pequena" - PORTUGAL (visto e vivido de dentro)

Quando a Robertinha me fez este convite, ainda que indiretamente, para escrever sobre Portugal ou sobre um pouco da minha experiência em terras lusas, fiquei com o bichinho da vontade: “E pá, isto pode ser um exercício giro, já não escrevo há tanto tempo”– refle(c)ti. Instantaneamente dei por mim num conflito linguístico. “Ih caraca, não posso escrever assim, senão ninguém vai entender patavinas!” – Rá, os dilemas dos luso-brasileiros.

Verdade, isto é frequente entre alguns dos brasucas que vivem em Portugal há já algum tempo. Viram? “Há já algum tempo”. É que eu habito as terras de Camões há quase 10 anos (!) – “Xiça pinico, cuncaraças!” Que é como quem diz “PQP” o tempo passa mesmo depressa! Fiz a licenciatura, o mestrado e tive meu primeiro emprego de jeito aqui. Porquê vim?

E hoje tenho a minha própria portuguesinha. Eduarda. Tem quase 1 ano e meio.

Penso em português, em brasileiro, escrevo em português de Portugal e já começo a ter que pensar nas palavras com cuidado quando falo com um conterrâneo. “Cara, você tá muito portuguesinha mermo” – dizem. “É o combíbio”, respondo a brincar. Sim, “a brincar” e não “brincando”.

Na minha escrita lateja o português do “pá”. Já não escrevo “em um lugar”, mas sim “num lugar”. Gerúndio? O que é isto? Utilizo expressões que já me estão tão enraizadas que até me esqueço que tenho sotaque brasileiro.

- Está lá.
- Oi?
- Tô?
- Onde?
- Estou!
- Está o quê aonde gente!?
- Quem fala?
- Sou eu uai.
- Desculpa?
- Desculpa porquê?
-?
-?
Fim da chamada.


E foi mais ou menos assim o meu primeiro telefonema aqui. É que o “alô” não é comum e deu nisto.

Falemos então dos tugas, dos portugas, de Portugal. Falemos do lado lúdico, das prosas e rimas, da poesia, mas também do que é feio, menos bonito. Falemos do português corre(c)to cheio de “Cês”, do português quase sempre bem falado e bem conjugado. Aqui é frio, aqui (só às vezes) é quente. Socializa-se à mesa acompanhado de bons enchidos, de bons amigos e do excelente vinho do Porto. Come-se chouriço, alheira, melão com presunto. Come-se, come-se e petisca-se e come-se. Bebe-se cafés que dão “pica”, pingos e meias de leite com tostas mistas. Há “penache” (cerveja com 7’up), “tango” (cerveja com groselha) e churrascarias que se chamam churrasqueiras.

Por aqui, carrega-se no travão ao invés de se pisar no freio, carrega-se no autoclismo ao invés de se apertar a descarga e, ainda, vai-se às casas de banho e não ao banheiro. Diz-se “rabo” ao invés de bunda, vai-se ao ginásio ao invés da academia.

Há “Tapas” (petiscos), há “pimentos padrão” – uns picam e outros não. Há entradas e saídas. Há paleio. Há boleia, há fado e pão de centeio. Preferem os doces aos salgados. Há “Maria, Felipa, Manuel e Joaquim”. Combina-se nomes como Pedro Nuno, Marta Alexandra e Carla Sofia. No início “estranha-se, depois... entranha-se”. 

Por aqui diz-se “por cá” e existem coisas “mais pequenas”. Olha-se os outros de cima abaixo quando se entra num café. Trata-se as pessoas amigas por “tu”, as desconhecidas por “você”. Valoriza-se os títulos à frente do nome e, por isso, há senhores doutores, senhores engenheiros e senhores arquite(c)tos. Mariquices. Acho.

Fa(c)to. Os meus olhos já não enxergam apenas o Douro ou a sedutora Ponte Dom Luís. Os meus olhos vão além da beleza inigualável do Porto, cidade onde vivo. Captam as diferenças culturais, os problemas sociais que afetam a Europa: o desemprego e a briga desmedida por um lugar - não ao sol, que este por aqui tem brilhado pouco -, mas por um lugar apenas.


A verdade? Já amei Portugal, já detestei, já protestei e me refastelei. E continuo a viver entre tapas e beijos neste país que me acolhe, me arrefece, me cansa e, ainda, me fascina. Quando me perguntam: “Porquê não regressas para o Brasil?...” ou “O que ainda fazes aqui, com tanta oportunidade boa na tua terra?



Sabem... Gosto de acreditar que quando tem que ser é. Simples assim. Apesar dos pesares as coisas têm-me acontecido mais por aqui. Não é comodismo. É instinto. Há qualquer coisa que ainda me prende. Já houve mais, não nego. Já quis mais disto do que quero hoje. Mas vou estando. Por enquanto. Até ao dia...  Vou estando ainda que as lágrimas me venham aos olhos cada vez que penso nas possibilidades do meu país mas, sobretudo, quando penso naqueles que deixei para trás, nos meus, na minha rua cheia de simplicidade e gente que se senta no portão de casa, de chinelo de dedo ao fim da tarde, e sorri só porque sim.


Quando tem que ser é. Não se pode ser como um torcedor em clima de Copa do Mundo; não se pode andar sempre atrás do “time” que está ganhando.


ERICA VILARINHO

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Hajimemashite「初めまして」OU Prazer em conhecê-lo - JAPÃO

Fui ao Japão em Outubro de 2012. Primeira vez no Oriente. Já sabia que seria diferente. Mas, nem tanto, né? O choque cultural foi imenso. Principalmente nas pequenas coisas.
A começar pelo aeroporto. Bom, se temos o Rio Surreal, Tóquio deixa a capital fluminense no chinelo. Táxi aeroporto-centro? Só 300 dólares. A diferença é que o risco de alguém estar te roubando é zero. O preço é esse e todo mundo sabe antes do taxímetro rodar. Se você quiser, pega o táxi, se não, há alternativas.
Nem pensar!! Mesmo sendo custeado pela empresa, não ia rolar. Peguei o busão mesmo. Eram 3 linhas, cada uma seguiria um itinerário de hotéis diferente. Meu amigo comprou linha 1, eu comprei a linha 2.
No ponto, tinham 3 colunas, para que os passageiros esperassem os seus respectivos ônibus. Tudo com horário marcado, claro. E não é “em torno das 20:00” não. É papo de: Linha 1 sai às 19:57, linha 2 sai às 20:08 e linha 3 às 20:21. Bom, eu e meu amigo chegamos neste ponto, que era dividido em 3 colunas, para que os passageiros já se agrupassem de acordo com a linha em que iriam pegar. Chegamos ali, perto das 19:50. Como o ônibus dele demoraria 7 minutos para sair, fiquei na linha 1, junto com ele, batendo papo. Passou o fiscal pedindo nosso ticket. Mostrei o meu a ele e....o maluco apontou para a coluna 2, dizendo que eu deveria ficar ali, pois me ônibus era ali. Não acreditei. Não é que a coluna 2 ficasse há 100m, ou do outro lado do aeroporto não. Uma coluna era colada na outra. Não tinha ninguém no ponto da minha linha. E ainda assim, o japa insistia que meu lugar era lá e não na coluna correspondente a linha 1. Enfim. Lá fui eu. 1 metro pro lado.
No dia seguinte, o segundo choque: fui ao metrô. Não tinha UM ÚNICO papelzinho, uma sujeirinha, uma biquinha de cigarro jogada no TRILHO!!!!! Para não falar que tenho complexo de vira lata, comparemos com o metrô de NY. Já vi rato, barata, sujeira no banco de espera. Pois lá, não há um cuspe fora do lugar. Bizarro.
Um terceiro choque foi na volta do passeio. Estava com muita sacola, então resolvi pegar um táxi. Beleza, a porta do táxi abria sozinha. Mas isso era só 1 século de avanço tecnológico e não diferença cultural. Pois bem, quando fui sair, o motorista (de um táxi qualquer) saiu do seu assento, foi até a minha porta abrir para mim e perguntou se eu precisava de ajuda para mais alguma coisa. Ah!!! Quem nunca viu dessas no RJ? Podemos nos gabar da educação dos nossos taxistas.
Bom, já falei da limpeza do povo japonês. Pois, você sabe que eu não vi um único fumante ao ar livre. Existem cabines para os mesmos. Conversando com um japonês, ele me explicou: a casa do japonês pode ser super zoneada, e muitas vezes é. Mas a noção de coletivo, de que ele não pode sujar e zonear o que é de todos é uma marca da cultura local.
Por fim, o que mais me chocou. Esse mesmo japonês, que na verdade era um descendente. Na verdade, era paulistano, mas com pais japoneses, então ele não estava chutando. Ele viveu muito tempo por lá e sabia do que tava falando. Ele falou para mim e um grupo de brasileiros numa roda de bate papo: “não atravessem a rua fora da faixa”. Daí você vai se perguntar, “pô, por quê? E se tiver tudo livre?”. Pois bem. O japonês simplesmente não compreende que alguém possa atravessar fora da faixa. Se você estiver atravessando porque acha que não está vindo carro, o japa acha que aquilo que você está fazendo está correto e vai atrás de você. Se vier um carro rápido, ele não vai dar aquela corridinha, que você, brasileiro, vai dar. Isso pode causar um acidente terrível.
Enfim, é claro que quando viajamos para fora, acabamos observando apenas vantagens que um povo, uma cultura tem sobre a nossa. É óbvio que o nosso jeitinho tem suas vantagens e desvantagens. Algum jogo de cintura às vezes facilita a vida de todo mundo sem prejudicar ninguém. Mas, um pouco de ordem e regras também ajudam demais. Cabe, a cada um, saber em que tipo de lugar conseguiria se adequar melhor, na zona harmoniosa que é o Rio de Janeiro ou na ordem angustiante do Japão. Não sei responder, apenas que não há nada mais sensacional que você viajar para poder experimentar esses choques culturais. Eles nos ajudam a questionar mais a nossa própria cultura, ao mesmo tempo, nos faz aceitar a cultura dos outros melhor. Afinal, em todas elas há tanto o lado bom, quanto o ruim.  


IVO CHERMONT