Ele entra na sala, em direção à máquina de xerox, como fazia diariamente.
Seria hoje, pensou ela! Agora. Nem um minuto a mais ou
a menos. Hoje, falaria tudo. Assim que ele se aproximasse.
Ele remexe os papéis, como era de costume. Ela prende a respiração involuntariamente. Sabia que ele se viraria em 5, 4.... Ela fecha os olhos 3, 2...e abre a boca, pronta pra falar 1...
Ele não se vira. Algo na planilha do mural o detém.
Zonza, ela se da conta que está prestes a assassinar sua paixão platônica. Morreria hoje: Desapareceria ou viraria outro tipo de paixão. Diante da grandiosidade do fato, percebeu que não conseguiria escapar da sua Montanha Russa íntima.
Ele volta a se virar em direção a ela.
Tonteira, músculos de gelatina, redução drástica da
idade emocional, êxtase; eram familiares efeitos colaterais que a simples presença
dele causava ao corpo dela.
A caneta dele cai. Ele se abaixa. Logo, os olhares se cruzariam. Subida da montanha russa. Na mente dela, pensamentos saltavam como pop-ups: Talvez as palavras sejam agressivas ou estúpidas demais. “Ok!” Não diria as palavras, então. Falaria tudo hoje sim, apenas com o olhar. E diria tudo num beijo ávido... “Patético!” Disse o alarme da autocensura. Decidiu-se: “Mímica!” Em gestos simples e não dramáticos, ela o convidaria para um chope e, bêbada, vomitaria em letrinhas o desejo que sufocara durante meses.
Ele se levanta. Lindo. Sorriso no rosto e caneta na
mão.
Ela desiste. Não conseguiria enfrentar tanta beleza. Não
hoje. Montanha Russa... Amanhã, falaria tudo. Nem um minuto a mais ou a menos.
Ele sai.
Sem que percebesse, as duas sílabas que a faziam
suspirar escaparam da boca: “Chico!”. Em silêncio, ela torce para ele não ter
ouvido sua impulsividade.
Ele ouviu. Volta à sala. Os olhares se cruzam. À beira
do abismo da Montanha Russa, ela sorri. Talvez, diga tudo hoje. Talvez, não
precise.