domingo, 24 de abril de 2011

Ih...A Coca!

A hora do jantar no 301 tem hora certa. A hora certa varia de 20 à 00.00 hs. Definitivamente, não é o relógio que determina o horário em que vamos nos juntar para comer, e sim, a Coca Zero. Explico!Todo dia alguém chega do trabalho com uma Coca Zero na mão. Revezamos, cada dia é o dia de um. É um pacto que nunca foi dito, nem combinado, mas funciona. Então, chegamos em casa e colocamos a Coca Zero quente no congelador. A partir daí, É TEMPO. É Tempo de banho, de lavar roupa, responder emails, preparar a comida, falar ao telefone, ler um livro, ver uma série... É TEMPO de cada um escolher o que vai fazer do seu tempo até a hora do jantar. Quando a Coca Zero gela, é hora de jantar. Ou melhor, quando a Coca Zero congela, é hora de jantar. Sim, porque todo dia ela congela. Talvez porque a gente faça coisas demais, talvez porque a gente tenha assunto demais, talvez porque a gente goste de desafios. A verdade é que já faz parte do nosso pequeno ritual de família, abrir a Coca congelada, estourada, e bebê-la sem gás. Todo santo dia a gente se propõe a fazer menos coisas no “É Tempo” e pegar a Coca antes dela congelar. E todo santo dia o “É Tempo” termina com uma interjeição: ih... a Coca!
Mas, não hoje. Coloquei a Coca Zero no congelador, disposta a não deixá-la congelar. Já tinha pensado o que ia fazer no meu “É TEMPO” : banho rápido, preparar salada, checar emails rapidamente e só. Pegaria a Coca antes da hora dela congelar. Bem na hora que eu ia começar o meu “É TEMPO”, meu cel apitou rapidinho, duas vezes seguidas. Mensagem. Fiquei apreensiva que fosse quem eu estava pensando. Era! Naquele dia, a tentação me rondou desde cedo. Veio sorrindo de mansinho como quem não quer nada. E eu fui ignorando, trabalhando, procurando não pensar: Como quem finge não querer nada. E agora com a mensagem, a tentação gargalhava, me envolvia, me chamava. Era só eu apertar o send do cel e o meu É TEMPO seria...Ah, tantas coisas, tantos sentimentos, tantos lugares...Vontade de apertar o send, concretizar o que a gente vinha ensaiando. Seria uma delícia, errado, insensato, sem sentido. Eu já disse que seria uma delícia? Para que entrar numa história de amor que jamais seria uma história de amor? Mas que vontade de responder, dizer sim ao não dito, mandar a ética brincar com a imoralidade, sucumbir ao desejo, ao proibido. Meu dedo quase apertou o send. Lembrei da Coca Zero. Embora uma eternidade de coisas tenha se passado na minha cabeça, apenas alguns segundos tinham se passado no tempo cronológico. A Coca Zero ainda não estava gelada. Dedo quase apertando o send. Imaginei a cena: Eu colocando a Coca Zero para gelar no dia seguinte. Como estaria me sentindo, se eu deixasse acontecer? Como nos olharíamos no dia seguinte, se o nosso É TEMPO fosse só nosso? Sentei e fiquei parada esperando o tempo passar. Quando minha pequena família chegou para jantar, abriram o congelador e...Ih, a Coca. Quando tirei a Coca Zero do frezzer, deixei lá a tentação. Não sei por quanto tempo, confesso. Jantamos tomando Coca Zero congelada, de novo. Acho que tem dias que é melhor deixar as coisas como estão.