A
cada dia, num horário previamente estabelecido com o infinito, a noite faz sua
entrada. Num dos hemisférios, a menina assiste, plácida, ao balé de tons laranjas,
vermelhos, púrpuros. Embora o ritual se repita diariamente, a menina não
consegue deixar de se inquietar com o final do número. Quando todas as partes
se inundam de sombra e silêncio, ela sabe que está na hora do seu padedê particular.
Um tango milimetricamente coreografado entre lençóis e trincheiras, tic-tacs e
pausas- entre tics e tacs. Seus instrumentos de defesa são a lanterna do
computador e som das vozes dos personagens de uma série qualquer. Lutam e repelem
o barulho dos seus próprios pensamentos até não aguentarem mais. Exaurida, a
menina finalmente se entrega. Fim do tango, por hora. Então, a noite a abraça brevemente
e se despede. Parte. E a menina tem algumas horas de descanso, até que a sombra
do silêncio toque o primeiro acorde do tango mais uma vez.
Roberta Saboya