quarta-feira, 21 de novembro de 2012

INSÔNIA


 A cada dia, num horário previamente estabelecido com o infinito, a noite faz sua entrada. Num dos hemisférios, a menina assiste, plácida, ao balé de tons laranjas, vermelhos, púrpuros. Embora o ritual se repita diariamente, a menina não consegue deixar de se inquietar com o final do número. Quando todas as partes se inundam de sombra e silêncio, ela sabe que está na hora do seu padedê particular. Um tango milimetricamente coreografado entre lençóis e trincheiras, tic-tacs e pausas- entre tics e tacs. Seus instrumentos de defesa são a lanterna do computador e som das vozes dos personagens de uma série qualquer. Lutam e repelem o barulho dos seus próprios pensamentos até não aguentarem mais. Exaurida, a menina finalmente se entrega. Fim do tango, por hora. Então, a noite a abraça brevemente e se despede. Parte. E a menina tem algumas horas de descanso, até que a sombra do silêncio toque o primeiro acorde do tango mais uma vez.

Roberta Saboya