terça-feira, 31 de janeiro de 2012

O Pecado Mora ao Lado

Eram inseparáveis. Desde os tempos das fraldas molhadas, andavam juntas. Mesmo bairro, mesma turma, mesma classe de balé, mesmas viagens, mesmos sonhos, mesma faculdade. Eram unha e carne e tinham juntas algumas ideias fixas (Homem ideal para ter uma noite de sexo selvagem: Mark  Wahlberg / O Marido ideal: Rodrigo Santoro/ Ano em que o mundo vai acabar: 2021).

Numa manhã, Julia estava na varanda tomando café quando, de repente, viu seu “futuro marido” na varanda do apartamento ao lado. Sim! A “Lei da Atração” era verdade. Rodrigo Santoro era seu novo vizinho. Julia saiu na velocidade da luz e foi contar a novidade. Mais do que depressa, Bárbara fez sua mala e se mudou para casa de Julia.  O êxtase do fato logo deu lugar a um pensamento óbvio e desconcertante: ele era um só. Pela primeira vez na vida, olharam-se como rivais. 

No início, cada uma passava os minutos do dia apenas arquitetando como abordar e chamar atenção do príncipe encantado. Julia era capaz de roubar sorrisos apenas com o olhar. Bárbara e sua habilidade comunicativa tornavam possíveis os diálogos: “oi”, “tempo está feio, não é?”, “é”, “tchau”, “tchau”.  Pouco depois, elas passaram a gastar os minutos arquitetando como chamar atenção dele e como impedir a outra de fazê-lo. Uma fez plantão na varanda, a outra passou o dia andando de elevador. Uma fingiu que esqueceu a chave e tocou a campainha da casa dele, outra fingiu que a internet não funcionava e pediu para usar o computador dele. Assim, os vícios humanos passaram a preencher as lacunas de amizade entre elas. Inveja, Luxúria, Soberba, Avareza... (não passaram pela Preguiça e Gula, porque alface e academia faziam parte do maquiavélico plano de cada uma). Um dia, deixaram a porta aberta para a Ira. Julia expulsou Bárbara. E elas nunca mais se falaram. No fundo, sonham com o dia em que vão rir juntas disso tudo. Torcem para que a outra rompa o silêncio, pelo menos antes de 2021. Por enquanto, a saudade segue preenchendo o vazio da velha amizade.

Nota de Rodapé: Atualmente, Rodrigo Santoro está gravando um filme e morando em Hollywood. Está aliviado por não ter esbarrado em nenhum vizinho ainda.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

"Vai Passar"

          “Amou daquela vez, como se fosse a última”, e era. Dia 31 de dezembro, último dia do ano coroado com um sexo perfeito. Léo levantou-se,  foi tomar uma ducha e fazer a barba. “Ela se virou de lado e tentou até sorrir”, mas com o adiantar das horas, não podia perder  tempo. Luisa não queria se atrasar para a festa  de Reveillon.
         - Já acabou, Léo?
         - Já. Você sabe onde a Maria colocou meu sapato?
         - Não, amor.
         - “Todo dia ela faz tudo sempre igual”, as cuecas no lugar das meias e os meus sapatos Deus sabe onde.
        - Estão aqui. Do lado do criado.
        - Ela é muito distraída. Chega a parecer burrice, mesmo.
        - Ah, amor, “não fala de Maria”. Vamos manter as energias boas.
        -  Então, vai tomar seu banho, porque ainda tem que se maquiar. Devia ter ido antes de mim.
        - Não sei porque. Você é uma noiva. No casamento do Adriano, ficou pronto meia hora depois de mim. E olha que “eu me pintei, me pintei, me pintei, me pintei” e repintei.
        - Mas hoje só me faltam os sapatos...
        -Em vinte minutos estarei prontinha.
        Deu um beijo no namorado,entrou no banheiro e “então ela se fez bonita” .  “Os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar”, e foram, caminhando entre risos e palavras.
       - Ih. Você lembra em que rua a gente tem  que entrar. Nunca fui pra casa deles a pé.
       - Nem eu. Hahahaha. “Imagina, imagina hoje a noite a gente se perder.”
       - O máximo que vai acontecer é termos que fazer o caminho do carro.
       - É aqui.
       - Oi, amiga! Que bom que vocês chegaram. Já estão todos aqui.
       - Nossa, muita animação. Parece que todo mundo já está meio alto.
       - Vocês é que demoraram e “ a gente vai tomando que também sem a cachaça ninguém segura esse rojão”, né mesmo?  Sirvam-se,  também!
       Falaram com um ou outro e ficaram sentados, observando e esperando o alcool lhes desenibir.
      - Amor, quem é aquela minhoca mal matada ali?
      - Ah implicante, “deixa a menina sambar em paz”.
      - Aquilo não é samba. É a manguaça, “ela desatinou” isso sim.
      - “Ela é dançarina”, seu doido. É a filha do Francis, você sabe quem é.
      - O que? A filha do Francis? Mas “essa moça tá diferente” demais.
      - Menina muda muito nessa idade.
      - “Será que desperta gingando e já sai chacoalhando?”
      - Ahahaha. Para com isso. Ela tá dançando bem.
      - Bem longe do que conheço por samba.
      “Vai passar nessa avenida um samba popular, cada paralelepípedo...”
      - Ai, Chico Buarque no Reveillon?
      - Também odeio Chico Buarque. Só colocam pra falar que é cult.
      - Nossa língua tá afiada hoje. Vamos parar pra atrair boas energias.
      - É verdade. Vamos dançar. Nos juntar aos outros. “Todos juntos somos fortes” e é de força que precisamos no ano novo.
     E dançaram como se a noite não fosse mais ter fim.
     - Gente! Vai começar a contagem.
10...9...8...
    - Amor, tenho uma surpresa pra você!
    - Agora?
5...4...
    -Sim. Agora.
2...1.
    -Quer casar comigo? E fazer, não só desse ano, mas de todos, os mais felizes da minha vida?
    - Ai, amor. “Nossa, nossa. Assim você me mata”!
“ Eis que chega a roda viva e carrega” o bom gosto pra lá...

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Ano novo: vida nova?


31 de dezembro de 2000. Ela correu pra fazer a famosa lista para o novo ano que se aproximava. As metas!!! Um passo adiante de um ponteiro, a última badalada em um relógio, o  estouro da champagne, fim de uma contagem regressiva, fogos tingindo o céu de todas cores... O que tudo isso, em apenas uma fração de segundos, pode fazer com a vida de uma pessoa... A partir daquele momento, tudo seria diferente. Dali em diante, ela daria adeus aos dez quilos... A academia, que no ano anterior, raramente frequentou, faria parte da sua rotina... Os livros, que enfeitavam sua estante, seriam todos devorados um a um. Sua meta era ler um por mês! E o projeto de fazer um curso no exterior seria posto em prática: no segundo semestre eu vou!

31 de dezembro de 2001. Muito animada com o novo ano. A lista já estava pronta desde o dia anterior:
1. Emagrecer meus quinze quilos
2. Ir a academia o ano inteiro...
3. Ler pelo menos dez livros em 2002!!!
4. Ver o lance do curso no exterior...
Sonhos anotados... Regressiva, Ponteiro, Estouro, A VIRADA!! Esse ano tudo vai ser diferente!! Fechou os olhos com força e acreditou... 

31 de dezembro de 2002. Subiu na balança! Vinte e dois quilos! Escreveu com calma em uma folha de papel... per-der vin-te e dois qui-los... me inscrever novamente na academia... Tentar ler pelo menos um livro esse ano... uma biografia... bem grossa! Vai valer por muitos...E o curso no exterior!!! Ver isso logo na primeira semana do ano! De 2003 não passa!

2003
2004
2005
...

31 de dezembro de 2011. Ela ainda não conhecia o exterior... Nos últimos dez anos conseguiu terminar “O Código Da Vinci” e começar uns oito títulos diferentes... A academia continua sendo um evento raro... Precisa perder vinte e cinco quilos... Não fez listas... não viu fogos... não estourou nada... Fez contagem regressiva!! Essa não podia faltar...

31 de dezembro de 2012. Dez minutos para a hora da virada. Arrancou uma folha do bloco ao lado do telefone e começou a fazer suas metas para o novo ano que se aproximava... Faltavam dez quilos para perder do regime que começou em junho daquele ano... item número 1 anotado! PERDER DEZ QUILOS... A academia, que iniciou em meados de agosto ia bem... 2. COMEÇAR A NATAÇÃO? O que colocar?... De julho pra cá conseguiu emplacar quatro livros... é... bom... ler mais? Ler um livro por mês? Uuummmm? Não sei... O curso no exterior já não queria mais... passou na prova para o mestrado e começaria logo em fevereiro... 10! 9! 8! 7! Correu para a varanda! Seus amigos já estavam com a taças de champagne nas mãos... Pegou a sua... 3! 2! 1! Estouro... Fogos... Abraços... A lista ficou ali... incompleta... esquecida... No bloco ao lado do telefone...

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Ano Novo, Metas Novas

Os fogos de artifícios anunciam a chegada do novo ano. Com ele, vem também o desejo de mudança e a esperança de conseguir mudar. Passada a ressaca festiva, é hora de cair na real e tomar as providências necessárias para alcançar as metas. O problema é que é o nível de dificuldade de atingimento, às vezes, é alto demais. Para uma certa família Silva, 2011 foi o ano em que seu Rogério Silva conseguiu “sair do vício do álcool”. Em forma de agradecimento a deus, a meta número 1 do clã é não cometer pecados em 2012. Desde dezembro do ano passado, começaram a frequentar a igreja evangélica. Uma espécie de treinamento para um 2012 sem pecados. Um detalhe interessante é que A Família Silva tem uma forma bem particular de comunicação interna. Falam um com outro utilizando palavras “carinhosas”, gesticulação excessiva e uma quantidade de decibéis muito maior do que qualquer família aguentaria. “SIVANA, PARA DE ANDAR PELA CASA PELADA, E VAI CUIDAR DO SEU FILHO REMELENTO, SUA PIRANHA IMPRESTÁVEL”. É bem verdade que a Família estava se saindo muito bem. Nas primeiras semanas de dezembro, não se bebia mais e não se falavam mais palavrões na residência. Até Silvana aposentou as microssaias! O sacrifício familiar foi por água abaixo no dia do culto de natal. A igreja estava abarrotada e Silvana com o “filho remelento” tiveram que sentar separados da “adorável mãe”. Foi só o pastor começar a pregar, que o “filho remelento” desatou o berreiro. Silvana pegou a criança do chão, colocou no colo e ficou se balançando com a delicadeza e paciência que deus lhe deu. Alguns segundos depois, percebeu que o pastor olhava fixamente para ela. Inicialmente, achou que fosse uma grande honra. Minutos depois, percebeu que todos olhavam fixamente para ela. Do outro ladoda igreja, sua mãe fazia sinais desesperados para ela. Foi então que Silvana percebeu que quando ela pegou o “filho remelento” no colo, o menino se enroscou na sua saia longa e fez com que toda a parte da frente da saia ficasse levantada. O detalhe é que tinha um velho hábito ainda não abandonado: o de andar sem calcinha. Naquele dia ao chegar em casa, a “adorável mãe” deixou para trás três semanas de abstinência de vida pagã e: “SILVANA, SUA FILHA DA PUTA! PARA COM ESSE NEGÓCIO DE ANDAR SEM CALCINHA NA RUA. SÓ ME FAZ VERGONHA. E VAI PEGAR UMA CERVEJA PARA MIM QUE EU ESTOU NERVOSA. SÓ PARA APROVEITAR QUE 2012 NÃO CHEGA. AH, TOMA NO CU.”


Sinto um alívio bem egoísta quando eu penso na minha meta número um e na meta número dos Silva. Para atingir minha meta, eu preciso de força de vontade e muita dedicação. Já eles, precisam de tudo isso e de um verdadeiro milagre. Espero que todos tenham a força necessária para fazerem suas revoluções particulares em 2012. E que seja um ano do caralho!