Tem dias em que ela
acorda, toma café, almoça e janta com você. Você pode tentar despistá-la com
trabalho, amigos, amores e boas taças de vinho. Mas, na hora de dormir, você
percebe que ela está lá. E te esmaga tão completamente que você tem certeza que
ela não se foi nem por um momento do dia. Inocência sua ter pensado que sim. Sem
conseguir dormir, você se entrega ao sonho e, acordado, brinca de lembrar.
Idealiza o tempo em que tudo parecia estar bem. Ou se fingia estar. Pensa na
docilidade do olá. O abraço, ah! O braço forte da camuflada fragilidade. Deseja
ter sido Fabiana, Carol, Maria...apenas para ser qualquer pessoa com quem ele tivesse
tido a coragem de olhar nos olhos e ser ele. De pernas e mãos atadas, você se entrega ao silêncio,
mas não sem antes se ajoelhar. Ali, lado a lado, vocês
oram, incrédulos, pedindo um futuro de boas lembranças. Até que, esgotado, você se entrega à noite. E ainda,
de mãos dadas com a saudade, você atravessa universos levando consigo apenas a pessoa em quem
gostaria de tocar, mas que seus braços, num momento, não tem direito de alcançar.
Roberta Saboya