Era uma vez Uma Princesinha
inocente. Ela vivia feliz e contente na sua pequena grande floresta, num reino
não muito distante. Numa bela manhã de domingo, durante o piquenique da Princesa
Aurora, ela conheceu um Coelhinho. Ele era fofo: muito pequenino e tinha o
nariz muito arrebitado. Ficaram amigos. Pouco tempo depois, viraram
companheiros inseparáveis. Nenhum
passeio, nenhum banquete, nenhum sarau tinha graça se os dois não estivessem
juntos. O mundo deles era tão perfeitinho! Mas, deixou de ser no dia em que o
pequeno coelhinho de nariz arrebitado virou-se para a Princesinha e disse:
- Estou precisando
pensar. Não é nada com você, é comigo. Tenho que ficar sozinho e pode acreditar,
Princesa, estou arrasado por isso, mas realmente preciso de um tempo.
A Princesinha ficou
muito confusa e tentou balbuciar algumas palavras. Ela queria conversar. Mas o
coelhinho, mais que depressa, saiu correndo e sumiu sem deixar rastros.
A Princesinha voltou
para o castelo se perguntando o que poderia estar acontecendo com ele? O que
ele estaria pensando? Por que ele não dividia com ela as suas questões? Ela
sentiu-se sozinha, sozinha.
- Quem no mundo poderia
me salvar de tanta tristeza? -refletiu a menina.
- Oh, sim... A minha
Personal Fada Madrinha. – respondeu para si mesma.
A Princesinha, então,
pensou bem forte. Fez tudo como manda o figurino de todas as histórias de
contos de fada, para chamar a atenção da sua Fada. E...nada. Por mais força do
pensamento que a Princesinha fizesse a Fada Madrinha não aparecia. Nunca, na
história de todos os reinos, uma Princesa se sentiu tão abandonada. Depois de
um momento de insano desespero, ela resolveu não se entregar ao drama. Decidiu
abandonar momentaneamente o papel de frágil donzela e lutar pelo seu amor como
um bravo guerreiro. Furtou de seu pai a capa, a espada, o cavalo branco e
partiu. Foi atrás do amor da sua vida: o
coelhinho de nariz arrebitado!
Um tempo depois...
ela avistou o coelhinho. Estranho! Ele não parecia triste, nem reflexivo. Na
verdade, estava sorrindo. Mas, do que sorria se o mundo estava tão triste agora que não estavam juntos? Um momento depois, entendeu que ele não sorria
por alguma coisa, mas para alguém. Por trás dos arbustos, a Princesinha pôde
ver direitinho quem caminhava ao lado dele.
Os olhos da Princesinha
praticamente queimaram quando ela viu sua personal Fada se aproximando do amado
e tascando-lhe o beijo mais viveram felizes para sempre já visto nas
histórias dos contos de fada. A Princesinha morreu. Ou achou que tivesse
morrido por um segundo. Não, droga! Estava viva e sofrendo. Tinha que pensar no
que faria dali por diante. Esperou a ex-Fada Madrinha se afastar para dizer
para o amado tudo o que estava borbulhando dentro dela. A Princesinha estava
disposta a fazer qualquer coisa para ele a amar novamente: colocaria silicone,
faria dieta, pintaria os cabelos de loiro, usaria varinha de condão, mudaria de
time....qualquer coisa. Queria dizer para o coelhinho quanto o amava, o quanto
poderiam ser felizes juntos.
Quando conseguiu
ficar a sós com seu querido amado coelinho, a Princesinha percebeu que as
palavras de amor se perderam num reino longínquo entre o coração e a garganta. E
mudou os planos. Utilizou muito bem a capa e a espada furtadas de seu pai. Devargarzinho
e aos poucos fez o coelhinho sentir na pele o sofrimento que ela tinha sentido
no coraçãozinho dela.
Dias depois, a Princesinha
deu um belo banquete e convidou todas as Princesas dos reinos próximos para
comer cozido...de coelho. A ex-Fada
Madrinha, aquela vaca, desesperou-se em segredo com o sumiço do coelhinho-amante.
Procurou-o enlouquecidamente por dois dias inteiros. Depois, apareceu um
coelhão e a Fada acabou esquecendo.
Enquanto degustava o
banquete, a Princesinha refletia sobre um velho ditado. E a cada colherada,
discordava mais e mais dele. Afinal, vingança é um prato que se pode comer
quente.
E assim, a Princesinha
inocente cresceu. E viveu: solteira, casada, separada, apaixonada, desconfiada,
infeliz, feliz... mulher para sempre.
Roberta Saboya