segunda-feira, 22 de agosto de 2011

A Hora Do Adeus

Domingo, 11:55 da noite.
Faltam 5 minutos para o início do resto de sua vida.
4: o último brinde!
Sabia o que estava por vir.
3: O último suspiro!
E não seria fácil.
2: O último grão de felicidade!
Sensação de vazio.
1: O último gole!
A difícil nova fase.

Segunda, 00:01
Dia internacional da dieta.
Felicidade, te encontro daqui a alguns meses,
Na esquina da praia com a rua Verão.



quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Despedida


Numa troca de olhares...
   A cumplicidade...
      Tristeza camuflada por sorrisos duros...
          Palavras ocas em frases murchas.
             No silêncio dos olhos...
                As compreensões, os perdões e as promessas.
                    Num olhar...
                        No silêncio...
                            Tudo o que se faltou dizer.
                                Num abraço apertado...
                                     No acenar das mãos...
                                         Os olhares...                
                                                                                         ...a despedida.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

A GRAMA DO VIZINHO

Da janela lateral


Débora chegava mais ou menos na mesma hora, linda e decidida. Passava pela sala apressada. Voltava pouco depois: Cabelos molhados, robe, taça de vinho na mão. Sentava-se à mesa, jantava, falava ao celular e apagava as luzes. Tinha dias em que o Príncipe, o namorado loiro, de porte atlético aparecia lá e eles se perdiam um no outro. No fundo, eles se achavam um no outro, com a ânsia de quem pode se perder para sempre no minuto seguinte.
Há anos, Ana acompanhava a vida de Débora, da janela lateral do quarto dos filhos. Débora - era assim que Ana a chamava para si. Débora, um nome forte, talvez o único que lhe coubesse bem- com seu pequeno ritual que acontecia exatamente na hora em que Ana cumpria a tarefa árdua de botar os seus para dormir. Ana lidava bem com a inveja confessa que sentia de Débora. Apesar da presença da vizinha lembrar a Ana tudo o que ela não era, aquela mulher trazia o conforto de existir uma possibilidade de vida diferente da sua própria. E de uma forma particular, Ana tinha a liberdade durante alguns momentos do seu dia, de ser o que gostaria de ter sido: uma mulher de personalidade com alguém que a amasse do seu lado. E diariamente vivia momentos em que ela podia simplesmente não ser Ana.

Da janela da Sala

Gabriela nunca teve certeza de que escolheu a profissão certa. Talvez por acomodação ou falta de entusiasmo de fazer outra coisa, continuava ali. Continuaria ali para sempre. Não pensava muito no que sentia. Todo dia era a mesma coisa: academia, trabalho, casa, banho, jantar, vinho, telefone, cama. E estava tudo bem. Estaria tudo bem. Até que um dia depois da maratona sexual, Gabriela se aproximou da janela e olhou, sem querer, a janela da vizinha. Era um dia de semana e já amanhecia. A vizinha estava absorta no ritual de acordar os filhos. Ela cantava e os meninos iam acordando aos poucos com certa resistência. Aos poucos foram cedendo à mãe. Em poucos minutos estavam os dois meninos arrumadíssimos para ir à escola. E todo o ritual pareceu leve como brincadeira de criança. Saíram do quarto os três às gargalhadas.

Gabriela nunca se sentiu tão exausta na vida. Percebeu que estava cansada de tudo, do seu trabalho, da sua vida, da sua solidão. Sentiu uma leve carícia na cabeça. Era sinal que seu amante estava partindo, como sempre, para o lugar onde pertencia. Tudo o que Gabriela queria naquele momento, era ser feliz como a mulher da janela lateral.