terça-feira, 10 de dezembro de 2013

NO AR

O Dia fez hoje uma entrada triunfal. Abri-lhe os braços e convidei-o a entrar, como se a casa fosse minha. Sorri-lhe. Ele sorriu de volta.
 Enchi o pulmão e percebi que meus pés não tocavam o chão. Flutuava como se sonhasse.  Esvaziei os pulmões para ver se descia... Nada. Mesmo sem ar, meu peito estava repleto e meus pés ainda não tocavam o chão. Sensação engraçada, boa. Resolvi não lutar mais contra ela.

Encarei novamente o dia e percebi que estava errada mais cedo. O dia não me sorria de volta. Ele era, antes, uma extensão de mim. Do que se passava aqui. Eu estava rindo, ainda que involuntariamente. Sem perceber, eu ria com todos os pedacinhos microscópicos do meu corpo. Meu peito repleto de alma. Coração num fluido compasso de uma canção sem ritmo, que cantava rimas de amor.


Tentei entender tudo. Busquei palavras (e ainda busco) para traduzir todo aquele sentimento. Não achei explicação racional para o infinito que começava e terminava no meu peito. Desisti de entender, ainda sem tocar os pés no chão. Na verdade, desconfio o que seja e só digo porque não tenho a pretensão de não soar pueril. Já que é exatamente assim que me senti hoje: boba, leve, inocente, esvoaçante, pueril. Hoje, me atrevi a pensar e ouso dizer que tenho a ligeira desconfiança de que o me suspendia era uma rajada contundente da mais pura e deslavada felicidade.  Uma lufada que passou por aqui, por um instante, e se foi. Ainda assim, meus pés continuam sem tocar o chão. 

Roberta S Saboya