quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Entre o ir e o ficar (O meio do caminho)

O dia era de samba.
Mas, o fato de estarem ali por acaso,
É apenas um detalhe raso
na história do encontro daqueles dois.
Atraíram-se, entre uma cerveja e outra,
como ele propôs.
Colaram-se, despretensiosamente, sem pensar no depois.

Assim seguiram.
Juntos, divagaram pela estrada, no meio, macios.
Ela, meio copo cheio; ele, meio copo vazio.
Pisavam leve o meio do caminho,
Evitando os imaginários espinhos.

Falavam de Tudo: de Bukowski e tanto mais.
Discutiam teorias e riam das diferenças abissais,
Criticando mutuamente seus mais íntimos ideais.

Assim seguiam.
Divagando pela estrada, no meio, sadios.
Ele, meio copo cheio; ela, meio copo vazio.

Ainda leves, whatsappeavam carícias,
Comentavam as notícias,
Enquanto, os lençóis cobriam as delícias
De estar sem pertencer.

Assim seguiam.
Mornos, divagando pela estrada, no meio, sem sentir frio.
Ela, meio copo cheio; ele, meio copo vazio.

Inteligentes, falavam sobre tudo.
Ainda que houvesse silêncio no que era urgente.
E foi num dia de sol, quase que de repente,
Que a leveza pesou o meio do caminho, impunemente.
E não falaram mais nada.
Contabilizaram, silenciosos, Dostoievskis não lidos,
Vinhos não bebidos, Cubas não visitadas.

Assim partiram.
Protagonistas, pela estrada, no meio.
Não se despediram.
Agora, sem o mútuo convívio.  
Ela, meio copo rancor, meio copo alívio.
Ele, meio copo dor, meio copo novo (meio) amor.

Assim seguiram.
Protagonistas, pela estrada, no meio. No meio do caminho.
E agora sim, sozinhos,
Viram com mais clareza que o meio daquela estrada...
Ah, o meio.
rima com anseio, receio, freio!
Como era inseguro e feio, acomodar-se justo ali, naquele caminho. O caminho do meio.  

Roberta S. Saboya