sexta-feira, 27 de junho de 2014

Buen Viaje - Destino: ESPANHA

Impressões e dicas (ou não) de uma viagem pela Espanha:

- Viajando para algum grande evento.
Em 2010 planejei uma viagem a Madri para assistir a final da Champions League. Esse torneio tem uma curiosidade interessante, a final acontece sempre em um jogo apenas, em uma cidade escolhida muito tempo antes de se saber que times estarão na disputa pelo título. Apesar de estar na Espanha o jogo foi entre alemães e italianos (Bayern de Munique x Inter de Milão). Cheguei um ou dois dias antes do jogo e a cidade já estava tomada por torcedores dos dois times. Numa mesma praça era capaz de brindar a primeira cerveja com um alemão e entoar gritos que nunca tinha ouvido e na segunda rodada, estava pulando e brindando ao lado de um italiano.
Pontos turísticos? Sim, estavam lá também. Na mesma praça, servindo de cenário perfeito para aquela enorme confraternização. Para quem gosta de fazer aquele “turismo tradicional”, vale lembrar que sim, a cidade fica bem mais cheia.  Mas, na minha opinião, essa vibração diferente compensa. Programe o seu evento e vá sem medo.
  Viagem a dois é romântico, mas por que não viajar entre amigos?
Nesta viagem, fui apenas com amigos (3 casais e eu, a super vela). Com certeza, é preciso um certo planejamento porque agradar sete pessoas num lugar totalmente novo não é fácil. O que na verdade também acaba sendo bem legal porque como justificativa de “programar” a viagem, algum tempo antes tivemos que nos encontrar diversas vezes para conversarmos sobre o que gostaríamos de fazer, onde iríamos – ótimos momentos em que curtíamos a viagem antes mesmo dela acontecer.

- Improvisar na programação.
E apesar de toda programação, alguns dos melhores momentos foram de total improviso. Em toda viagem anda-se muito. E na Espanha não foi diferente, andamos muito. Mas num grupo grande, logicamente o passo é outro - fulano parou pra foto, siclano entrou numa loja, calma, espera... Sem pressa, sem stress. E por diversas vezes a gente estava passando na frente de algum barzinho, e simplesmente porque gostamos do clima, entramos para uma calibrada, duas, três ou mais algumas cervejas e seguimos em frente. Esse tipo de programa não está em nenhum guia de viagem, mas vale muito a pena.

- Só chame o garçon quando tiver certeza.
Já que mencionei bares e restaurantes, fica uma dica que demoramos uns dois ou três restaurantes para aprender. Na Espanha, jamais chame um garçon sem saber o que você vai pedir. Eles são muito impacientes. Se chamar o cara e der uma pestanejada na direção do cardápio, já era, ele some na sua frente igual ao mestre dos magos. Pedir para trocar ingredientes então não é nem digno de resposta...

- Fuja do hotel, vá de aluguel.
Para viagens em grupo, a melhor coisa é alugar um apartamento para temporada. Existem muitos sites que alugam apartamentos, em diversas cidades pela Europa. Nessa viagem, alugamos apartamentos em Madri, Barcelona e em Palma. E em todos os casos, sempre foram honestos e corretos e nunca fomos “enganados” por anúncios com fotos lindas e apartamentos caindo aos pedaços. Além da economia (fica bem mais barato!), tem outras vantagens, por exemplo, chegou “cansadão” e não quer sair essa noite? Nada que um baralho, música e algumas cervejas na sala não resolvam. Sim, tem algumas desvantagens, ninguém vai fazer a sua cama e preparar o seu café da manhã.


- Futbol si senor.
Uma coisa que me impressionou na Espanha é a enorme polarização que o futebol por lá atingiu. A grande rivalidade é logicamente entre os times mais ricos do país, o Real Madri e o Barcelona. Mas o curioso é que nas duas cidades, passeando pelo comércio, você encontra “lembrancinhas” dos dois times. Em Madri era mais fácil encontrar itens do Barcelona do que do Atlético de Madri, o outro grande time da cidade. Futbol e rivalidad si, mas negócios em primeiro lugar.


GUSTAVO CHERMONT

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Como eu queria estar lá, Tchê! - Conexão BRASIL/ ARGENTINA

Desde quando decidi morar no rio, há 15 anos atrás, vários são os momentos nos quais desejo estar em Porto Alegre. Em datas familiares importantes, em eventos e momentos da vida dos meus grandes amigos da Nata Santa Rosa. Ou, até mesmo, só por estar, pelos ares gaúchos, pelos “ventos desgarrados de saudade”.
Especialmente hoje, eu queria muito estar lá. Queria ver Porto tomada pelos argentinos. Queria estar com um lenço vermelho no templo Beira Rio, no único dia em que, mesmo inteiramente colorido de azul, certamente vai estar lindo, iluminado. Hoje, hoje, hoje, não tenho dúvidas, “minha alma lá deixei”.
Queria acordar, tomar um chimarrão amargo e, enquanto a chaleira chia, vestir o colorado manto sagrado e como todo o “nasci igualzito ao pai” tem sua exceção , ver o Messi brilhar, ao som de um “toque de gaita ou violão”.
Sim, está tendo Copa. Está lindo ver a cidade maravilhosa invadida por várias etnias, vários povos e culturas, várias torcidas brindando com a nossa cerveja, nos nossos bares, interagindo, compartilhando, vibrando. Sem dúvida nenhuma, “onde tudo que se planta cresce o que mais floresce é o amor”.
Sim, está tendo Copa e eu fico vidrada assistindo aos jogos. Me envolvi, me joguei, me entreguei. E, mesmo com inúmeras crises e problemas no nosso “canto gauchesco e brasileiro”, continuo com o mesmo pensamento “quero lutas, guerras não...Erguer bandeiras sem matar, vento negro é furacão”.
Sim , está tendo Copa e daqui algumas horas, o jogo da Argentina será em Porto Alegre. Imagino Buenos Aires. Beber um vinho na praça de Palermo ou comer uma empanada andando pela feira de San Telmo. Ouvir um tango, uma milonga, caminhando pelas ruas da Recoleta. Beber uma Quilmes Stout no Caminito, comer uma carne em Puerto Madero. Um café, uma colher de doce de leite...Mas hoje eu queria estar em Porto Alegre. No Cais, na Cidade Baixa, no Gasômetro, no Moinhos, na Osvaldo, na Redenção. ”E de lambuja permita, que eu nunca saia daqui”...
Centro de POA
Pôr do Sol no Guaíba
Sim, está tendo Copa e fui, desde o início, tomada por esta paixão. O coração acelera, a respiração muda o compasso, as pernas tremem, o grito ecoa. Tudo é intenso. Forte. Verdadeiro. Durante o dia inteiro, não sai de mim. Está longe, está perto. “Longe é perto o que vale é o sonho”. É aqui, é em mim.

Sim, está tendo Copa, Copa das surpresas, dos gols, dos grandes times indo embora cedo. Copa dos Craques, dos acréscimos, Copa das Copas. Na Copa não tem time, tem seleção. Hoje sou colorada de coração azul querendo muito estar aí, no meu Porto que, de tão alegre, hoje virou Argentino. É....”quem vai embora tem que saber, é viração”.

  
AMORA XAVIER

terça-feira, 24 de junho de 2014

"Il lupo perde il pelo ma non il vizio" – Uma aventura na ITÁLIA

A viagem foi planejada ao longo de algum tempo com reuniões regadas a riso e vinho. Carro alugado desde o Brasil, para sair de Roma e passearmos, minha grande amiga e eu, pela Toscana!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Chegado o esperado dia! Já em solo italiano, fomos direto ao aeroporto de “Ciampino”, o menorzinho de Roma. Pegamos o carro lá. A ideia era sair direto para a Toscana, pelo cinturão verde, sem ter que dirigir pelo complicado trânsito da cidade de Roma. Nós, tal qual um Thelma and Louise, começamos a nos aventurar. Demorou um tempinho, mas logo, começamos a nos acostumar com o GPS em italiano (“spostastevi a destra”, “a sinistra”, “siamo arrivati”....), com os barulhinhos do carro e tudo o que lhe era peculiar.
Resolvemos parar em um posto de gasolina para abastecer e para um necessário pipi stop, depois de alguns quilômetros rodados. Estacionamos entre dois carros, fomos ao banheiro. Lá nos lembramos de haver deixado a bolsa sobre o banco do veículo. Corremos de volta ao estacionamento. Grande surpresa: ao chegarmos ao ponto onde havíamos estacionado: CADÊ O CARRO??????????? DOV’È LA MACCHINA? Malas, bolsa, documentos, fim de viagem, pensamos!!!! Mas eis que, cerca de uns 200m adiante, (ou abaixo) avistamos um carro escorado pelo muro que separa o posto da autoestrada. Lá estava ele, nos aguardando, depois de descer vagarosamente (assim esperamos) o trajeto entre o estacionamento e a mureta. Como diz o titulo do texto, velhos hábitos são difíceis de ser vencidos ("Il lupo perde il pelo ma non il vizio"). Acontece que minha amiga, a condutora da vez, não se lembrou de puxar o freio de mão..............................O que é compreensível, já que há cerca de 20 anos, ela só dirige carro automático.


Susto... aprendizado... O bom é que estávamos na Itália. E nos bastou um bom vinho local pra ajudar a engolir e digerir a história. Hora de aproveitar a belíssima Toscana! Nossa primeira parada, onde esperávamos ficar umas duas noites, foi no hotel de agro turismo, “Podere Spedalone”, perto de Pienza! Era tão agradável que acabamos passando 4 noites. Fizemos dali o nosso ponto de início de aventura, onde saíamos de manhã rumo a outras cidades por perto (Sienna, Montalcino, Montepuciano) e voltávamos ao anoitecer para sermos brindadas com um prosecco geladinho, ou um “espresso” e, depois, um animado jantar. Tudo, feito pelos simpaticíssimos donos do hotel fazenda. Que delícia... a beleza do lugar é de tirar o fôlego e a simpatia italiana, a admiração deles pelo Brasil, tudo isso foi extremamente cativante.

Alessandro, dono do Hotel


 Um pouco relutantes, mas sabendo que seria muito bom também, entramos no nosso carrinho (agora com todo aprendizado) e partimos dando continuidade à nossa pequena aventura, tal qual Thelma e Louise, mas com final “molto felice”, rumo à Florença.   

REGINA SABOYA

domingo, 22 de junho de 2014

"Tudo vale a pena se a alma não é pequena" - PORTUGAL (visto e vivido de dentro)

Quando a Robertinha me fez este convite, ainda que indiretamente, para escrever sobre Portugal ou sobre um pouco da minha experiência em terras lusas, fiquei com o bichinho da vontade: “E pá, isto pode ser um exercício giro, já não escrevo há tanto tempo”– refle(c)ti. Instantaneamente dei por mim num conflito linguístico. “Ih caraca, não posso escrever assim, senão ninguém vai entender patavinas!” – Rá, os dilemas dos luso-brasileiros.

Verdade, isto é frequente entre alguns dos brasucas que vivem em Portugal há já algum tempo. Viram? “Há já algum tempo”. É que eu habito as terras de Camões há quase 10 anos (!) – “Xiça pinico, cuncaraças!” Que é como quem diz “PQP” o tempo passa mesmo depressa! Fiz a licenciatura, o mestrado e tive meu primeiro emprego de jeito aqui. Porquê vim?

E hoje tenho a minha própria portuguesinha. Eduarda. Tem quase 1 ano e meio.

Penso em português, em brasileiro, escrevo em português de Portugal e já começo a ter que pensar nas palavras com cuidado quando falo com um conterrâneo. “Cara, você tá muito portuguesinha mermo” – dizem. “É o combíbio”, respondo a brincar. Sim, “a brincar” e não “brincando”.

Na minha escrita lateja o português do “pá”. Já não escrevo “em um lugar”, mas sim “num lugar”. Gerúndio? O que é isto? Utilizo expressões que já me estão tão enraizadas que até me esqueço que tenho sotaque brasileiro.

- Está lá.
- Oi?
- Tô?
- Onde?
- Estou!
- Está o quê aonde gente!?
- Quem fala?
- Sou eu uai.
- Desculpa?
- Desculpa porquê?
-?
-?
Fim da chamada.


E foi mais ou menos assim o meu primeiro telefonema aqui. É que o “alô” não é comum e deu nisto.

Falemos então dos tugas, dos portugas, de Portugal. Falemos do lado lúdico, das prosas e rimas, da poesia, mas também do que é feio, menos bonito. Falemos do português corre(c)to cheio de “Cês”, do português quase sempre bem falado e bem conjugado. Aqui é frio, aqui (só às vezes) é quente. Socializa-se à mesa acompanhado de bons enchidos, de bons amigos e do excelente vinho do Porto. Come-se chouriço, alheira, melão com presunto. Come-se, come-se e petisca-se e come-se. Bebe-se cafés que dão “pica”, pingos e meias de leite com tostas mistas. Há “penache” (cerveja com 7’up), “tango” (cerveja com groselha) e churrascarias que se chamam churrasqueiras.

Por aqui, carrega-se no travão ao invés de se pisar no freio, carrega-se no autoclismo ao invés de se apertar a descarga e, ainda, vai-se às casas de banho e não ao banheiro. Diz-se “rabo” ao invés de bunda, vai-se ao ginásio ao invés da academia.

Há “Tapas” (petiscos), há “pimentos padrão” – uns picam e outros não. Há entradas e saídas. Há paleio. Há boleia, há fado e pão de centeio. Preferem os doces aos salgados. Há “Maria, Felipa, Manuel e Joaquim”. Combina-se nomes como Pedro Nuno, Marta Alexandra e Carla Sofia. No início “estranha-se, depois... entranha-se”. 

Por aqui diz-se “por cá” e existem coisas “mais pequenas”. Olha-se os outros de cima abaixo quando se entra num café. Trata-se as pessoas amigas por “tu”, as desconhecidas por “você”. Valoriza-se os títulos à frente do nome e, por isso, há senhores doutores, senhores engenheiros e senhores arquite(c)tos. Mariquices. Acho.

Fa(c)to. Os meus olhos já não enxergam apenas o Douro ou a sedutora Ponte Dom Luís. Os meus olhos vão além da beleza inigualável do Porto, cidade onde vivo. Captam as diferenças culturais, os problemas sociais que afetam a Europa: o desemprego e a briga desmedida por um lugar - não ao sol, que este por aqui tem brilhado pouco -, mas por um lugar apenas.


A verdade? Já amei Portugal, já detestei, já protestei e me refastelei. E continuo a viver entre tapas e beijos neste país que me acolhe, me arrefece, me cansa e, ainda, me fascina. Quando me perguntam: “Porquê não regressas para o Brasil?...” ou “O que ainda fazes aqui, com tanta oportunidade boa na tua terra?



Sabem... Gosto de acreditar que quando tem que ser é. Simples assim. Apesar dos pesares as coisas têm-me acontecido mais por aqui. Não é comodismo. É instinto. Há qualquer coisa que ainda me prende. Já houve mais, não nego. Já quis mais disto do que quero hoje. Mas vou estando. Por enquanto. Até ao dia...  Vou estando ainda que as lágrimas me venham aos olhos cada vez que penso nas possibilidades do meu país mas, sobretudo, quando penso naqueles que deixei para trás, nos meus, na minha rua cheia de simplicidade e gente que se senta no portão de casa, de chinelo de dedo ao fim da tarde, e sorri só porque sim.


Quando tem que ser é. Não se pode ser como um torcedor em clima de Copa do Mundo; não se pode andar sempre atrás do “time” que está ganhando.


ERICA VILARINHO

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Hajimemashite「初めまして」OU Prazer em conhecê-lo - JAPÃO

Fui ao Japão em Outubro de 2012. Primeira vez no Oriente. Já sabia que seria diferente. Mas, nem tanto, né? O choque cultural foi imenso. Principalmente nas pequenas coisas.
A começar pelo aeroporto. Bom, se temos o Rio Surreal, Tóquio deixa a capital fluminense no chinelo. Táxi aeroporto-centro? Só 300 dólares. A diferença é que o risco de alguém estar te roubando é zero. O preço é esse e todo mundo sabe antes do taxímetro rodar. Se você quiser, pega o táxi, se não, há alternativas.
Nem pensar!! Mesmo sendo custeado pela empresa, não ia rolar. Peguei o busão mesmo. Eram 3 linhas, cada uma seguiria um itinerário de hotéis diferente. Meu amigo comprou linha 1, eu comprei a linha 2.
No ponto, tinham 3 colunas, para que os passageiros esperassem os seus respectivos ônibus. Tudo com horário marcado, claro. E não é “em torno das 20:00” não. É papo de: Linha 1 sai às 19:57, linha 2 sai às 20:08 e linha 3 às 20:21. Bom, eu e meu amigo chegamos neste ponto, que era dividido em 3 colunas, para que os passageiros já se agrupassem de acordo com a linha em que iriam pegar. Chegamos ali, perto das 19:50. Como o ônibus dele demoraria 7 minutos para sair, fiquei na linha 1, junto com ele, batendo papo. Passou o fiscal pedindo nosso ticket. Mostrei o meu a ele e....o maluco apontou para a coluna 2, dizendo que eu deveria ficar ali, pois me ônibus era ali. Não acreditei. Não é que a coluna 2 ficasse há 100m, ou do outro lado do aeroporto não. Uma coluna era colada na outra. Não tinha ninguém no ponto da minha linha. E ainda assim, o japa insistia que meu lugar era lá e não na coluna correspondente a linha 1. Enfim. Lá fui eu. 1 metro pro lado.
No dia seguinte, o segundo choque: fui ao metrô. Não tinha UM ÚNICO papelzinho, uma sujeirinha, uma biquinha de cigarro jogada no TRILHO!!!!! Para não falar que tenho complexo de vira lata, comparemos com o metrô de NY. Já vi rato, barata, sujeira no banco de espera. Pois lá, não há um cuspe fora do lugar. Bizarro.
Um terceiro choque foi na volta do passeio. Estava com muita sacola, então resolvi pegar um táxi. Beleza, a porta do táxi abria sozinha. Mas isso era só 1 século de avanço tecnológico e não diferença cultural. Pois bem, quando fui sair, o motorista (de um táxi qualquer) saiu do seu assento, foi até a minha porta abrir para mim e perguntou se eu precisava de ajuda para mais alguma coisa. Ah!!! Quem nunca viu dessas no RJ? Podemos nos gabar da educação dos nossos taxistas.
Bom, já falei da limpeza do povo japonês. Pois, você sabe que eu não vi um único fumante ao ar livre. Existem cabines para os mesmos. Conversando com um japonês, ele me explicou: a casa do japonês pode ser super zoneada, e muitas vezes é. Mas a noção de coletivo, de que ele não pode sujar e zonear o que é de todos é uma marca da cultura local.
Por fim, o que mais me chocou. Esse mesmo japonês, que na verdade era um descendente. Na verdade, era paulistano, mas com pais japoneses, então ele não estava chutando. Ele viveu muito tempo por lá e sabia do que tava falando. Ele falou para mim e um grupo de brasileiros numa roda de bate papo: “não atravessem a rua fora da faixa”. Daí você vai se perguntar, “pô, por quê? E se tiver tudo livre?”. Pois bem. O japonês simplesmente não compreende que alguém possa atravessar fora da faixa. Se você estiver atravessando porque acha que não está vindo carro, o japa acha que aquilo que você está fazendo está correto e vai atrás de você. Se vier um carro rápido, ele não vai dar aquela corridinha, que você, brasileiro, vai dar. Isso pode causar um acidente terrível.
Enfim, é claro que quando viajamos para fora, acabamos observando apenas vantagens que um povo, uma cultura tem sobre a nossa. É óbvio que o nosso jeitinho tem suas vantagens e desvantagens. Algum jogo de cintura às vezes facilita a vida de todo mundo sem prejudicar ninguém. Mas, um pouco de ordem e regras também ajudam demais. Cabe, a cada um, saber em que tipo de lugar conseguiria se adequar melhor, na zona harmoniosa que é o Rio de Janeiro ou na ordem angustiante do Japão. Não sei responder, apenas que não há nada mais sensacional que você viajar para poder experimentar esses choques culturais. Eles nos ajudam a questionar mais a nossa própria cultura, ao mesmo tempo, nos faz aceitar a cultura dos outros melhor. Afinal, em todas elas há tanto o lado bom, quanto o ruim.  


IVO CHERMONT

terça-feira, 17 de junho de 2014

A VINGANÇA - MÉXICO

Fui ao México uma única vez, com minha ex-mulher, minha filha e meu filho pré-adolescentes, no final dos anos oitenta. Mais precisamente, no ano de 1988.
À época Cancún despontava, mas escolhi Acapulco para começar a viagem, por causa dos meus registros cinematográficos; depois fomos para a capital.
 A ideia preponderante, o que mais se via ao longo da estada, era o sofrimento do povo, extorquido por um governo corrupto, e a inevitável comparação com o Brasil.
A devastação produzida pelo invasor espanhol é muito mais sentida pelos mexicanos, que orgulhosamente se esforçam para preservar a história e os marcos da sua cultura pré-colombiana.
É claro que levei na brincadeira a lendária Vingança de  Montezuma***, que ataca os aparelhos digestivos dos incautos turistas, com  seus poderosos temperos.
Meu desprezo levou-me a ingerir, sob os olhos apavorados dos meus filhos, um aparentemente inofensivo vegetal verde-claro e crocante, durante o café da manhã no aeroporto, pouco antes do embarque para Los Angeles.
Embarcamos, nos instalamos, decolamos. Conversávamos sobre os programas em L.A., quando senti um aperto no baixo ventre. A princípio não liguei, mas começou a incomodar muito e eu resolvi que iria ao toilette, quando servissem o almoço. Avisei meu grupo e assim o fiz. Mas a cólica era seca e me apertava o abdome como uma tenaz. Empapado de suor, recompus-me o suficiente para sair e pedir ajuda mas, de repente, o desconforto foi sumindo, sumindo... Aí meus pensamentos convergiram para a senhora, mãe do iminente mandatário asteca, para depois abrigarem um pedido de perdão pela minha quase fatídica descrença.


RICARDO SABOYA



***OBS: “Vingança de Montezuma” é um termo coloquial para as doenças diarreicas causadas a turistas de outros países, durante visita ao México. Os especialistas de internet dizem que a doença é causada pela bactéria Escherichia coli.


sábado, 14 de junho de 2014

Ônibus, empanadas e Coca-colas


Quando alguém viaja pela primeira vez para os E.U.A., ou para algum país da Europa, por exemplo, recebe esta recomendação: “não fique pensando nos preços em Real o tempo todo, senão você não vai comprar nada!”. Mas tenho uma dica – ou melhor, duas – para quem vai visitar o Uruguai: leve uma calculadora para converter SEMPRE os Pesos para Real e lembre-se que a Coca-Cola não é de graça!
No final do ano passado, eu e minha amiga Carla fomos conhecer a terra do tio Mujica. Como duas pessoas centradas, planejadas e organizadas que somos, sabíamos que no aeroporto devíamos cambiar apenas uma pequena quantia de dinheiro, só o suficiente para o transporte do aeroporto até o hotel. E assim fizemos, ou achamos que tínhamos feito.

Cada uma trocou R$ 50,00, recebemos tantas notas de volta que parecia o suficiente para chegar até o nosso destino (Um Real vale aproximadamente $ 8,00 pesos uruguaios). O pequeno detalhe é que estávamos em Montevidéu e a nossa primeira parada era em Punta Del este, uma cidade que fica em um departamento (espécie de estado uruguaio) diferente do da capital. Para chegar até lá tínhamos que pegar um ônibus de viagem. E, tudo certo, o dinheiro deu e ainda sobrou!
Já no confortável transporte, no meio da estrada, o carinha antipático e sem paciência, que falava rápido, enrolado e em espanhol, nos explicou que nosso hotel não ficava exatamente em Punta e, sim, em La Barra, e que para chegar lá a gente precisava pegar outro ônibus na rodoviária. Mas, na hora, não nem nos importamos com essa informação. A conversa com o turista brasileiro - gato e simpático – estava tão boa...
Só quando estávamos abandonadas e sozinhas no terminal (para dar um toque dramático à história) é que resolvemos pensar se o nosso dinheiro seria suficiente para a próxima passagem. Perguntamos para qualquer um que estava andando por lá (Por que ir até um guichê, né?) quanto era a passagem do outro ônibus. Era $ 20,00 pesos uruguaios. Esse foi o momento que nos desesperamos e começamos a contar as notas e moedas restantes. Ufa!! Ainda tínhamos dinheiro suficiente. E, para comemorar, fomos gastá-los!
O ônibus ainda ia demorar e a fome era grande. Resolvemos, então, fazer uma boquinha. Como somos prevenidas, antes de pedir qualquer coisa, olhamos o preço no cardápio. Fizemos contas, refizemos, pensamos, somamos, dividimos, diminuímos, multiplicamos e chegamos à conclusão que o dinheiro daria para pedir duas empanadas. E, que surpresa, era maravilhosa!! (Mais tarde elegemos essa empanada da rodoviária como a melhor de todo o Uruguai e Argentina e espalhamos isso para todo mundo que conhecemos por lá!). Era tão gostosa que merecia uma Coca-Cola para acompanhar. Uma, não, duas! Porque eu só tomo a light e a Carla a normal.
O dinheiro? Ah... esquecemos dele nesse momento! Mas a conta chegou e o valor das garrafas de Coca-Cola estava lá, sorrindo para a gente  (Enquanto as empanadas eram $ 40,00, cada garrafa de coca-cola custava $ 90 pesos uruguaios!!). Só que tivemos uma ideia ótima. “Vamos pagar com cartão de crédito.” Não aceitavam! Voltamos a contar e a recontar nossas sobras, e, como Deus ajuda turistas desorientados, conseguimos pagar tudo e ainda ficamos com exatamente $ 40,00 Pesos Uruguaios.
 Felizes e contentes, esperamos o ônibus. Não passou mais do que cinco minutos e ele chegou. Já entrando, perguntamos ao motorista para confirmar:
- Quanto é a passagem?
- $ 27,00 pesos.
DE – SES – PE – RO!
- Aceita Real?
- Só se não precisar de troco.
Nossa menor nota era de R$ 50,00.
DE – SES – PE – RO plus!
- Dólar?
- Fica $ 3,00 dólares.
Já fomos subindo e falando muito animadas
- $ 3,00 dólares para cada uma? Temos!!
O motorista olhou para a gente com uma cara de pena e raiva e, entre os dentes disse:
- Não. $ 3,00 para as duas!
Bom... o resto da viagem foi todo tranquilo. Fazíamos muitas contas (bem difíceis!) para não nos assustar com os preços, de vez em quando nos confundíamos, mas no final a gente conseguia entender.
Na volta para Montevidéu, de novo na rodoviária, com muitos pesos uruguaios, tentamos comer de novo a melhor empanada do mundo, mas a lanchonete estava fechada. Então, para fazer hora, rodamos um pouco pelo terminal e encontramos uma casa de câmbio, que estava lá o tempo todo, entre a lanchonete e a parada do ônibus... 


MÔNICA MARLI



segunda-feira, 2 de junho de 2014

Festa Para Quem é de Festa

Era um prédio muito engraçado,
Tinha tudo para ser o melhor,
mas era mal administrado.
Gigante por natureza.
Parecia perfeito para morar,
Por fora, uma beleza.
Por dentro, era de chorar.
Problemas de estrutura,
Era preciso mudar.
O síndico só dormia,
afinal nenhum morador parecia ligar,
Até que um determinado dia, eles começaram a despertar.

-Está tudo errado, seu síndico. O senhor não pode negar.

- Eu não nego nada. Muita coisa a realizar.

-Então, comecemos já.

-Espera lá!

-Já sei, taxa extra para pagar?

-Como não? Muito a fazer. Mas, fiquem tranquilos: segurança, infra, e conforto eu vou prometer. Para vocês ficarem satisfeitos vou fazer até uma bela área de lazer.

Esperançosos, foram para o lar,
Contando os dias para o grande dia chegar.
Com atraso de meses,
Veio a inauguração.
Para a festa, apareceu uma multidão.
Eram japoneses, americanos,
Franceses, italianos,
Croatas e mexicanos...
Gente do mundo a fora.
Quando os moradores chegaram à cobertura,
Quase foram embora.
Além de não conseguir ver o show de abertura...viram que permaneciam as mesmas falhas de estrutura.
A quadra de futebol, linda. Iluminada.
Mas, da melhora prometida, nada.

-Síndico escroto! O que fez com o dinheiro que tirou do nosso bolso?

-Calma, pessoal. Não fiz nada de mal.

-O dinheiro, embolsou. Tantas viagens pelo mundo. Foi até a Moscou.

-Olhem, em volta! Festa linda!

-Não mude de assunto. Você está na berlinda.

As coisas esquentaram.
Os moradores se revoltaram. Partiram para agressão.
Os fotógrafos da imprensa internacional registraram a confusão.
Até que um morador conseguiu acalmar a situação.

-O síndico está errado. Roubou, superfaturou, não cumpriu o combinado. Mas, nós vamos nos prejudicar e bagunçar o que já foi arrumado? A área de lazer ficou legal. Os moleques já estão até jogando futsal.

-Mas, vamos ficar aqui, com sorriso na fisionomia, enquanto eles bebem champanhe, nesta mordomia?

-A festa foi feita com as nossas economias. Mesmo não estando na área VIP, tenho direito de aproveitar.

-Como? Com bolso vazio e cerveja na mão?

-Por que não?

-Ah! É se contentar com pouco. Eu vou partir para a ação.

-Por que não? Eu vou ficar tomando uma cerveja e curtindo a canção.

-Mas, e o síndico? O que vamos fazer com o ladrão?

-O que a gente quiser. Este, é ano de eleição.

Por algum tempo, pensaram na questão.
Uns preferiram passar a festa à samba e cerveja;
Outros se viraram de costas e cuspiram na bandeja.
A festa transcorreu com axé, frevo e chorinho.
Mesmo embriagados de vinho, os moradores sabiam que, daqui para frente, seria um longo caminho.
Alguns ainda falaram impropérios. Apesar da revolta, a verdade é que o destino do síndico era um mistério.
Por debaixo dos panos, muitos tinham se beneficiado com o adultério.  
Depois, nas urnas, cada um usaria seu critério.
O resultado poderia ser injusto,
E não gerar ao prédio nenhuma melhoria,
Paciência! Pois, até hoje, não inventaram nada mais justo
do que a malfadada democracia.  

Roberta S Saboya