Teresa e Joana trabalham no mesmo lugar. Fora isso,
não tem mais nada em comum. Uma nasceu no interior, numa das paisagens mais
áridas e feias que se pode imaginar, em meio a uma família populosa e de recursos
escassos. A outra nasceu na capital, num dos mais belos cenários já vistos no
mundo, em uma família de baixa densidade demográfica e de bons recursos.
Uma sabia que as esperanças depositadas na sua
existência eram áridas como sua terra. A outra sabia que as esperanças
depositadas nela eram altas como suas possibilidades. Uma sabia que podia ser
melhor do que julgavam. A outra tinha dúvidas. Enquanto uma estudava para
conseguir tudo o que sonhava, a outra estudava para não decepcionar os que
sonhavam por ela. Enquanto uma conquistava, a outra preenchia lacunas. E iam vivendo:
uma, vencendo os desafios. A outra, fugindo deles.
Foram apresentadas no dia em que uma realizou o
sonho de ver o mar, e a outra decidiu que estava cansada de vê-lo todos os
dias. Teresa e Joana seriam colegas de trabalho. Mas, uma não prestou muita
atenção na outra. Estavam focadas na carreira. Uma sabia que era apenas uma
pequena empresa, um degrau a mais na sua escalada para uma vida melhor. A outra
sabia que era uma pequena empresa, e que talvez não tivesse competência para ir
para um lugar melhor. Para uma, era uma porta que conduziria para um infinito
de possibilidades; para outra era um confortável beco sem saída e nada mais.