sexta-feira, 4 de novembro de 2011

A TURMA DO 301

Quando ela chegou, a festa já estava rolando há algum tempo. Já no hall de entrada, sob a estranha luz avermelhada ela se arrependeu de ter ido. Era uma festa estranha, com gente esquisita. O único móvel na sala era um sofá. Nele, duas mulheres analisavam com afinco os convidados. Não faziam questão de esconder que também achavam aquela gente toda muito estranha. Alheia ao sofá, estava toda aquela gente estranha. Era uma gente de idades diferentes, tribos diferentes, sotaques diferentes, sexualidades diferentes, culturas e crenças diferentes. Que mistura estranha: essa gente, tão diferente entre si, junta. Do hall de entrada ela os observava. Pareciam exagerados, saídos de uma cena teatral. Ela, sem dúvida, não se encaixava. O sofá e as mulheres que o habitavam pareciam o porto mais seguro para os cinco minutos que permaneceria naquele local. Ela já se encaminhava para lá, quando DJ lançou uma música pré-histórica. A canção fazia parte da infância dos de 30, da adolescência de 40 e da fantasia dos de 20. Mas, todos sem exceção, de 20, 30, e 40 saíram de onde estavam para dançar e cantar juntos uma música bobinha do Balão Mágico. Se a situação já era estranha, passou a ser inacreditável. Só uma cerveja podia salvar a vida dela naquele momento. Antes de sentar no sofá, foi até a geladeira. Da porta da cozinha, sem mais nem menos, virou-se e olhou para sala. Que engraçado! Dali, de onde estava, a luz vermelha do Hall pareceu acolhedora. Daquele ângulo, aquelas pessoas não pareciam tão estranhas. Eram tantas idades, tribos, sotaques, sexualidades, culturas, crenças... que se misturavam perfeitamente. Seus gestos, palavras e gargalhadas se encaixavam na cena. Parecia tudo muito pensado por um diretor de cinema. Como aquela mistura de diferenças podia ser tão harmoniosa? Ironicamente, a música bobinha que deu a resposta: Eram "amigos, amigos do peito, amigos de uma vez"! O resto era detalhe.


Então, ela pegou a cerveja, mas não foi para o Sofá. Invadiu a pista de dança e se misturou. Sem saber, naquela noite, ela estava conhecendo pessoas que a acompanhariam para o resto da vida.