
Pensando
bem, a metáfora escolhida por mim para retratar esta disputa PT X PSDB é muito desleal aos
torcedores rubro-negros e tricolores. Porque o FlaXFlu é de uma beleza, de uma honra digna dos cavaleiros das
fábulas de capa-e-espada. Os times se enfrentam, mas se respeitam. Sabem que um
clássico destes só é possível porque um é um e o outro é o outro.
Não!
As eleições de 2014 não tem essa
honra, não tem esse mérito. Os presidenciáveis ainda se parecem com times de
futebol e nós, eleitores, com torcidas. Mas, nada a ver com um FlaXFlu. Esta disputa eleitoral se
parece mais com um sangrento jogo de Libertadores
da América. Em 1981, o Flamengo
e o time chileno Cobreloa
protagonizaram uma dos duelos mais violentos da história da competição. Foram
três partidas cruéis. Nas duas primeiras, o zagueiro Mario Soto, do time chileno, deu uma pedrada no meia Adílio e também fez sangrar o
ponta-esquerda Lico.
Assim
estão as arenas de debates: acusações e pedradas viraram o foco. As torcidas
fazem coro e se atacam nas redes sociais, botecos e táxis. Já vi amizades
estremecerem, fraquejarem e ficarem moribundas. Mostramos os pontos fracos de
um e de outro, normalmente sem checar as fontes e ver se todas as informações
são verdadeiras. Neste jogo que criamos não há regras, nem cartão vermelho para
as faltas e baixezas cometidas contra o outro. O que importa mesmo aos
candidatos e às torcidas é ganhar o jogo – vale gol de mão, cascudo, tiro,
porrada e bomba.
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Duelo entre Fla e Cobreloa |
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Ilustração: William medeiros |
No
terceiro e decisivo jogo entre Flamengo
e Cobreloa, em 1981 pela Libertadores, veio a vingança do time
rubro-negro. Cansado das pedradas, o time carioca resolveu se vingar. A quatro
minutos do final, Carpegiani, o então
técnico do Fla, colocou em campo o
atacante Anselmo só para esmurrar Soto (o jogador das pedradas).
Obediente, Anselmo soltou a mão — e
foi expulso feliz da vida, vibrando com a vitória. O Fla comemorou e a torcida aplaudiu e se sentiu vingada. Somos
humanos, afinal de contas! E na nossa humanidade passional nestas eleições
perdemos o foco. O país vive um período difícil e estava precisando de carinho,
de cuidado, de projetos que realmente fizessem bem para ele. Mas, nós – as torcidas
- estamos dedicando nosso tempo a berrar uns com os outros com sete pedras na
mão. Enquanto isso, o Brasil agoniza
e vai perdendo o jogo por uma goleada muito maior do que 7 a 1.
Roberta S Saboya