sexta-feira, 14 de junho de 2013

A FUGA



          Saiu sem que ninguém percebesse. Juntou suas coisas, que não eram muitas, na mala azul surrada de rodas quebradas. Capengas, ele e a mala precipitaram-se pelas, também capengas, ruas de paralelepípedos. Encoberto pela não luminosidade da noite sem lua, chegou à estação sem ser notado. Pegou o primeiro trem rumo à qualquer lugar. Decidiu que desceria na quinta parada. Gostava do número 5. Pela janela observou a noite parir o sol, esvaziando-se em dia. As árvores próximas corriam rápidas em direção ao passado, acompanhadas pelos passos lentos das montanhas distantes. Aos poucos, fechou os olhos e adormeceu. Despertou, com o apito do trem, já na quinta estação. Pegou a mala e desceu. Não sabia o que fazer e nem pra onde ir. Andou a esmo. Desconheceu as ruas, as casas e as pessoas. Desconheceu as paisagens, os cheiros e os sons. Desconheceu-se... em seus pensamentos, em suas emoções e, sobretudo, em sua coragem. Desconhecia o porvir. Deteve-se diante do jardim de uma simpática pousada. Entrou. Não lhe preocupou se a vida seria feliz ou não. Seria diferente e isso era tudo o que ele queria.

 Rick Sadoco

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