Saiu sem que ninguém percebesse. Juntou
suas coisas, que não eram muitas, na mala azul surrada de rodas quebradas.
Capengas, ele e a mala precipitaram-se pelas, também capengas, ruas de
paralelepípedos. Encoberto pela não luminosidade da noite sem lua, chegou à
estação sem ser notado. Pegou o primeiro trem rumo à qualquer lugar. Decidiu
que desceria na quinta parada. Gostava do número 5. Pela janela observou a
noite parir o sol, esvaziando-se em dia. As árvores próximas corriam rápidas em
direção ao passado, acompanhadas pelos passos lentos das montanhas distantes. Aos
poucos, fechou os olhos e adormeceu. Despertou, com o apito do trem, já na
quinta estação. Pegou a mala e desceu. Não sabia o que fazer e nem pra onde ir.
Andou a esmo. Desconheceu as ruas, as casas e as pessoas. Desconheceu as
paisagens, os cheiros e os sons. Desconheceu-se... em seus pensamentos, em suas
emoções e, sobretudo, em sua coragem. Desconhecia o porvir. Deteve-se diante do
jardim de uma simpática pousada. Entrou. Não lhe preocupou se a vida seria feliz ou não. Seria diferente e isso
era tudo o que ele queria.
Rick Sadoco
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