quinta-feira, 20 de junho de 2013

O DESPERTAR

Tudo estava calmo. Ela era um coração estável, aposentado de paixões, dentro de um país que se sabia alegre, apesar de. Ela, assim como o país, acostumara-se a reverter a mais triste dor em riso, em questão de tempos ou de copos de cerveja. Em legítima defesa, aprenderam a gargalhar de si. Faziam piada dos próprios defeitos e desvantagens, agarravam-se às delícias de ser, sabiamente ignorando todas possíveis armadilhas de se tornarem questionadores de seu próprio mundo...Assim, imersos na calmaria dos inocentes, viveram felizes por algum tempo. Num belo dia, um estrangeiro que passava por ali,  ergueu diante deles um espelho. Espantaram-se ao perceber que eram maiores do que imaginavam, tanto o coração dela, quanto o país. Não souberam ao certo durante quanto tempo espezinharam, de chuteiras, a própria auto-estima ou se deixaram inebriar pela compreensão maniqueísta de si mesmos. Ainda em berço esplêndido, perceberam que a cegueira seletiva não caberia mais ali. Quase imediatamente, o desejo abafado chutou a inércia, que atingiu em ondas as ex-margens plácidas. Então, levantaram-se. Tiraram das costas o peso, antes simpático, do  “Apesar de” e partiram “em busca de”... Ela, coração instável, banhado de sonho intenso e raio vívido. Ele, gigante pela própria natureza, mais forte e impávido. Ainda de chuteiras (pois assim seriam sempre) caminharam, braços erguidos, em direção a um novo futuro. Estava nublado. Mas, como milagre, o sol da liberdade brilhou no céu da pátria naquele instante. 

Roberta S Saboya

4 comentários:

  1. Parabéns querida. Texto delicioso e muito bom. Acho que não tinha lida nada seu, mas quando li, apaixonei. Beijo

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  2. Querido! Obrigada pela visita. Que bom que gostou. Volte sempre.

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  3. Oi Roberta, compartilhei no meu g+, gostei do texto.

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  4. Oi, Murilo, que bom que passou por aqui e que gostou do texto. Obrigada por compartilhar. Volte sempre.

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