quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

O DIA D


Ao chegar em casa, na sexta-feira, ele desfez o nó da gravata. Enterrou o terno, a pasta e o cotidiano no fundo do armário. Deixou tudo preparado para o dia seguinte e foi dormir. Não conseguiu embarcar no sono, já que o coração reverberava alto. Não brigou pelas horas de descanso. Ao contrário, introduziu instrumentos imaginários à cadência do coração. Fez da ansiedade, melodia. Embalou-se, entre sonho e vigília, no  prenúncio da alegria que estava por vir. 

Os primeiros raios de luz deram o aviso oficial. Estava decretado que todo o brasileiro tem o direito à felicidade plena por 4 dias inteiros. Ele vestiu-se de esperança e, com o brasão da liberdade em punho, foi Rei. Foi príncipe. Foi super-herói. Foi Pierrô.   Embriagou-se de amor pela colombina. Apaixonou-se pela cigana. Encantou-se com a baiana. Namorou a mais linda das freiras. Perdeu-se e se achou mil vezes em meio à orquestra de pandeiros, repiques e tamborins. E durante 96 horas, viveu como se não houvesse amanhã. O dia D chegou ao meio dia de quarta. Então, ele guardou o brasão da liberdade, vestiu a fantasia cotidiana e foi trabalhar. 

Roberta Saboya

Nenhum comentário:

Postar um comentário