Ao chegar em casa, na sexta-feira, ele desfez o nó da
gravata. Enterrou o terno, a pasta e o cotidiano no fundo do armário. Deixou tudo
preparado para o dia seguinte e foi dormir. Não conseguiu embarcar no sono, já
que o coração reverberava alto. Não brigou pelas horas de descanso. Ao
contrário, introduziu instrumentos imaginários à cadência do coração. Fez da
ansiedade, melodia. Embalou-se, entre sonho e vigília, no prenúncio da alegria que estava por vir.
Os
primeiros raios de luz deram o aviso oficial. Estava decretado que todo o
brasileiro tem o direito à felicidade plena por 4 dias inteiros. Ele vestiu-se
de esperança e, com o brasão da liberdade em punho, foi Rei. Foi príncipe. Foi
super-herói. Foi Pierrô. Embriagou-se de amor pela colombina.
Apaixonou-se pela cigana. Encantou-se com a baiana. Namorou a mais linda das
freiras. Perdeu-se e se achou mil vezes em meio à orquestra de pandeiros,
repiques e tamborins. E durante 96 horas, viveu como se não houvesse amanhã. O
dia D chegou ao meio dia de quarta. Então, ele guardou o brasão da liberdade,
vestiu a fantasia cotidiana e foi trabalhar.
Roberta Saboya
Nenhum comentário:
Postar um comentário