terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

A CHUVA



Começou com um pingo. Caiu-me na ponta do nariz. Olhei pra cima, o céu estava limpo. Outro pingo. Dessa vez na mão direita. Em seguida um “A” e dois “Is”. Entendi de onde vinham os pingos. Um “P” escorreu-me na lente dos óculos. Um “S” , dois “erres”, um “til” e a frequência aumentanto. Corri e me abriguei sob uma marquise. Em questão de segundos, sílabas começaram a desabar, e palavras e frases. Um senhor abrigou-se comigo com a aba do chapéu ensopada por um parágrafo. A calçada estava tomada por páginas inteiras. Uma garota ruiva abriu o guarda-chuva bem na hora em que uma capa despencava em sua cabeça. Pude ver algumas crianças brincando numa correnteza de capítulos. Meia hora de intempérie e as ruas ficaram cobertas de livros.

         - Tempo doido esse.

Disse ao senhor de chapéu.

- Mas estava precisando.

Respondeu-me limpando um “exclamação” que lhe respingou no rosto.


Rick Sadoco

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