Começou com um pingo. Caiu-me na ponta do nariz.
Olhei pra cima, o céu estava limpo. Outro pingo. Dessa vez na mão direita. Em
seguida um “A” e dois “Is”. Entendi de onde vinham os pingos. Um “P”
escorreu-me na lente dos óculos. Um “S” , dois “erres”, um “til” e a frequência
aumentanto. Corri e me abriguei sob uma marquise. Em questão de segundos, sílabas
começaram a desabar, e palavras e frases. Um senhor abrigou-se comigo com a aba
do chapéu ensopada por um parágrafo. A calçada estava tomada por páginas
inteiras. Uma garota ruiva abriu o guarda-chuva bem na hora em que uma capa
despencava em sua cabeça. Pude ver algumas crianças brincando numa correnteza
de capítulos. Meia hora de intempérie e as ruas ficaram cobertas de livros.
- Tempo doido
esse.
Disse ao senhor de chapéu.
- Mas estava precisando.
Respondeu-me limpando um “exclamação” que lhe
respingou no rosto.
Rick Sadoco
Rick Sadoco
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