As repetidas voltas do relógio levaram consigo o ano
que havia sido peculiar. Nenhum grande amor, nenhuma grande fortuna. Mas
intimamente, sabia que havia subido alguns degraus na escala de sucesso que ela
própria inventara para si. Valendo-se de sua vitória particular, abriu mão das superstições
que sempre lhe foram companheiras. Testemunhou o nascimento do novo ano vestida
de preto, com um pequeno cogumelo de porcelana no bolso – presente dado pelos
amigos austríacos que obedeciam à própria tradição de réveillon.
Sentia-se mais madura e ainda assim explorou os dias
que se passaram com inocência e curiosidade quase infantis. Queria absorver
cada momento, cada gosto, cada cheiro, cada alegria das experiências vividas naquela
cidade tão fria quanto maravilhosa. O tempo transcorreu rápido. Já era hora de voltar.
Arrumou tudo sem pensar no gosto da saudade, que mesmo antecipada, já
apertava-lhe a garganta. Deixou para trás o que já não queria mais e partiu.
Leve. Na mala, apenas boas lembranças, algumas roupas, e presentes. Na alma, a
vontade de descobrir os acontecimentos que o novo ano reservava para si. No
coração, a certeza de que um dia voltaria lá.
Roberta Saboya
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