terça-feira, 7 de abril de 2015

O Tempo X O Menino


Durante anos, eles correm devagar, entorpecidos de quando, embalados do nada que era antes de tudo. O mundo!
Distraído com cenário, um cai a conta-gotas, ainda despercebido da
sua missão de passar. Embalado por cores, o outro engatinha, ainda despercebido da sua missão de estar.

Ganham consciência de si em algum momento.  E partem, cada um, a cumprir sua jornada. Um a inventar-se e o outro a descobrir-se. Até que  um dia, num expandir-se, entendem a dimensão do outro.  É então que começa a guerra.

Guerra não declarada, sem conflito direto. Só o toque do desgaste lambendo silenciosamente as bordas de vida. Enquanto um se esvazia de pele, o outro se infla de ironia. Enquanto um se enche de histórias, o outro se esvazia de piedade. Sádico, um aprende a correr cada vez mais rápido, enquanto o outro, tenta preencher, inutilmente, sua prateleira de expectativas. Maquiavélico, um deixa marcas, enquanto o outro tenta, inocente, disfarçá-las. Os passos solares de um, tornam até risíveis as tentativas do outro de esconder a si próprio com a peneira. Seguem os dois: Um, ansiando o próximo passo e o outro, fugindo dele.
Eis que o inevitável chega mesmo assim. O que ganhou a guerra assiste de perto os itens deixados de fora daquela fração de vida: metas não realizadas, viagens nunca feitas, projetos meio finalizados. Sussurros de sonhos a se dissolverem em algum lugar que não aqui...
Em algum momento, os olhares se cruzam. E passa. O que não passa? Ainda depois do fim, o outro continua correndo, voando, irônico,  mergulhando-se na própria invencibilidade.       
 

Roberta S. Saboya




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