Durante
anos, eles correm devagar, entorpecidos de quando, embalados do nada que era
antes de tudo. O mundo!
Distraído
com cenário, um cai a conta-gotas, ainda despercebido da
sua
missão de passar. Embalado por cores, o outro engatinha, ainda despercebido da
sua missão de estar.
Ganham
consciência de si em algum momento. E
partem, cada um, a cumprir sua jornada. Um a inventar-se e o outro a
descobrir-se. Até que um dia, num
expandir-se, entendem a dimensão do outro.
É então que começa a guerra.
Guerra não declarada, sem conflito direto. Só o toque
do desgaste lambendo silenciosamente as bordas de vida. Enquanto um se esvazia
de pele, o outro se infla de ironia. Enquanto um se enche de histórias, o outro
se esvazia de piedade. Sádico, um aprende a correr cada vez mais rápido, enquanto
o outro, tenta preencher, inutilmente, sua prateleira de expectativas. Maquiavélico,
um deixa marcas, enquanto o outro tenta, inocente, disfarçá-las. Os passos
solares de um, tornam até risíveis as tentativas do outro de esconder a si
próprio com a peneira. Seguem os dois: Um, ansiando o próximo passo e o outro,
fugindo dele.
Eis que o inevitável chega mesmo assim. O que ganhou a
guerra assiste de perto os itens deixados de fora daquela fração de vida: metas
não realizadas, viagens nunca feitas, projetos meio finalizados. Sussurros de
sonhos a se dissolverem em algum lugar que não aqui...
Em algum momento, os olhares se cruzam. E passa. O que
não passa? Ainda depois do fim, o outro continua correndo, voando, irônico, mergulhando-se na própria
invencibilidade.
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