Volta e meia a genial peça de
Samuel Beckett me vem à cabeça. O texto
fala sobre dois amigos (Vladmir e Stragon) que se encontram e ficam esperando
Godot chegar. Toda vez que tenho que
esperar alguém, a Peça simplesmente surge. Pensamento inevitável.
Num fim de semana desses, meu
irmão veio com a mulher e os amigos da turma do Pólo aquático para o Rio. Para
eles, seria um fim de semana especial. Vieram sem os pais, sem os filhos, sem
obrigações. Foi na Lapa que o fim de semana começou. Chegamos cedo. Todos
animados. Estávamos em um grupo grande, eu e o pessoal do Pólo. Paramos em um
ponto da rua principal do agito.
- Onde vamos? - alguém
perguntou.
- Por enquanto, não vamos a lugar
nenhum. O Presunto está chegando e combinei de encontrar com ele na frente da
banca de jornal, do lado deste bar Arco-íris. - respondeu Macalé.
-Vamos sentar em algum lugar, e a
gente liga para ele. -Alguém sugeriu.
- O Presunto está sem celular,
temos que esperar aqui. Mas, quando eu estava saindo ele já estava terminando
de se arrumar. Já deve estar chegando. - Macalé disse por fim.
Ninguém contestou. Esperaríamos o Presunto, afinal ele já estaria chegando.
-Alguém quer cerveja?
Todos queriam.
-Você sabe se algum vendedor
ambulante vende Heineken? -Meu irmão perguntou.
- NA LAPA??? - Respondi espantada
e completei: - Não serve Antarctica?
Não servia. O pessoal do polo só bebe Heineken. Peguei uma Antarctica e pensei na tarefa inglória que eles teriam durante a noite. Macalé resolveu procurar algum lugar que vendesse Heineken. Esperamos ali mesmo, pois o Presunto já estava chegando. Teoricamente.
Um tempo se passou até a volta
desanimada de Macalé. Nada de Heineken. Mais gente se juntou a ele na missão.
Waller disse:
- Vamos continuar procurando, não
saiam daqui.
Esperamos, em pé, mais algum bom tempo. Alguns se renderam:
- Vamos começar na Antarctica.
Não é nenhum pecado, né?
Para eles, era. Mas, como a espera estava grande e a vontade gigante, Sari redimiu a todos:
-Não tem problema. Essas não
contam. Depois a gente troca.
A noite foi passando e nada de Presunto. Mas, tudo bem, porque a Heineken chegou, trazendo com ela os sorrisos de orelha a orelha do Macalé e do Waller.
- Vocês não sabem a aventura que
foi para conseguir. – Disse Waller.
Quando a rodada terminou, todos se olharam em silêncio, se perguntando secretamente quem enfrentaria a aventura para buscar a segunda rodada.
- Por que não vamos todos e
ficamos mais perto da cerveja? – Sugeri.
- O Presunto está chegando,
esqueceu?
Já tinha passado tanto tempo, que
eu tinha esquecido mesmo. Alguns se
renderam à Antarctica, outros resolveram percorrer o caminho rumo à Heineken. E com o passar de muito tempo começamos a entender
que se o Presunto estivesse realmente chegando, ele já teria chegado. Eu
desabafei :
- Vamos sentar em algum lugar, pessoal. Quando o Presunto chegar, ele procura a gente.
Todos concordaram timidamente.
Agora a dúvida era para onde ir. O casal, Carol e Rafael, queria conhecer o Rio
Scenarium. Dani e Bob queriam ir para o Carioca da Gema, já Clarisse e Bernardo
queriam sentar num barzinho... Antes de se darem conta que não chegariam a um
consenso, pensaram no Presunto. Não podiam sair todos dali. Alguém teria que
esperar o Presunto. Decidiram que iam fazer rondas de revezamento. Os meninos
buscariam a Heineken, enquanto Clarisse e Bernardo tomavam um chope no
barzinho. Quando eles voltassem, alguns iam dar uma voltinha até o Rio Scenarium,
e outros entrariam um pouquinho no Carioca da Gema. E assim foi feito.
Quando eu e minha Antarcitica já
estávamos nos divertindo com aquela situação, lá pelas tantas, aconteceu o
milagre. Diferente de Godot, o Presunto chegou. E todos finalmente sentamos
para comemorar. Eu me perguntava, como é
que esse pessoal vem de Brasília com tão pouco tempo para aproveitar o Rio e
passa uma noite inteira esperando o Presunto? Assim que sentamos, entendi.
Tudo o que aconteceu durante a espera virou história. A Heineken, os ambulantes, o Rio Scenarium, o Carioca da Gema, o outro bar... E o Presunto contou o motivo do atraso dele. E fez todos caírem na gargalhada. Eles contaram histórias novas, histórias antigas, conversavam como se não se vissem há muito tempo. Às vezes, um não precisava nem contar o final da história, para o outro entender e rir junto. E como eles riam. Ao contrário do que possam pensar, a quantidade de cerveja ingeridas não era a autora única das crises de riso. Entrosamento. Um passava a bola para o outro, que já tinha entendido toda a jogada antes dela ser feita, e já corria para fazer o gol. Tem coisas que são engraçadas só quando compartilhadas com quem se tem cumplicidade. Eu percebi que eles eram um time. Cada um com sua função. Cada um do seu jeito. Entendi que a cidade Maravilhosa, seria um pouco menos maravilhosa para eles, se não estivessem juntos.
Notas de Rodapé:
1- Para o meu irmão, que esperou por este texto quase tanto tempo quanto Vladmir e Stragon estão esperando Godot.
2 -Para o Beto, que sempre fará parte desse time.
1- Para o meu irmão, que esperou por este texto quase tanto tempo quanto Vladmir e Stragon estão esperando Godot.
2 -Para o Beto, que sempre fará parte desse time.
sensacional.adorei
ResponderExcluirAESCA
Que bom ter você por aqui. Volte sempre.
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